Livro: "2013 – REVOLTA DOS GOVERNADOS: ou para quem esteve presente, REVOLTA DO VINAGRE (Plutocracias na América Latina Livro 3)"

O Livro “2013 – Revolta dos Governados” de Wallace de Moraes, prof. do Departamento de Ciência Política da UFRJ, faz uma excelente viagem no tempo relembrando aqueles dias insurgentes. A revolta popular é problematizada a partir da perspectiva dos revolucionários que dela participaram. Mas para além disso, e como seu principal diferencial, vem dotado de um capítulo teórico, criado exclusivamente para utilizar conceitos que melhor expliquem seu objeto de pesquisa, lutando contra o epistemicídio. Dentro do escopo acadêmico, ainda inclui uma rica discussão bibliográfica, debatendo, criticando e principalmente desconstruindo muitas teses estadolátricas e plutocráticas sobre a revolta. De Moraes situa, ainda, 2013 no cenário de luta mundial, mostrando aspectos similares de outras revoltas. Trata-se de uma obra ímpar, essencial para todos aqueles que buscam fugir da narrativa uníssona midiática dominante e da mesmice que critica o movimento de 2013 por ele não ter sido dirigido por ninguém. Wallace de Moraes mostra que esse foi exatamente o marco vitorioso da revolta, sua horizontalidade, descentralização e ação direta de grupos de afinidades. Por fim, o autor nos convence da sua tese segunda a qual o movimento conservador que ganha força no Brasil a partir de 2014 constitui-se como uma clara reação a 2013, que foi marcado por profunda crítica à polícia militar, pedindo o seu fim; crítica aos bancos; aos oligopólios de comunicação de massas e por defesa de mais liberdades para mulheres, negros e LGBTs. A defesa pelo passe livre deu início ao movimento que foi agregado por exigências de maior investimento em saúde e educação e contra os gastos com estádios de futebol para a copa do mundo. Os protestos foram contra as remoções. Em 2013 tivemos a maior quantidade de greves já vistas na história recente brasileira. Foi um ano insurgente, que poucos reconhecem. De Moraes critica veementemente quem busca enteder 2013 pelo que aconteceu depois dele, atribuindo culpa aos revoltosos que foram às ruas por um mundo melhor. Para tanto, ele nos mostra os exemplos da Revolução Francesa, Primavera dos povos de 1848, Maio de 1968, tentativa revolucionária em 1919 na Alemanha, Comuna de Paris, Occupy, Primavera Árabe e outros que foram seguidos por movimentos conservadores. O estudo nos enche de esperança em relação à construção de uma sociedade verdadeiramente livre e justa, sem opressores e oprimidos, ou seja, sem governantes e governados materializadas não por eleições, mas pela autogestão popular, conquistada pela luta, pela revolta. Nesse sentido, entender 2013 sob esse aspecto nos ajuda muito.“Os signos revolucionários das manifestações de 2013 incomodaram as elites e todos os governantes. Para combater a pauta dos insurgentes, os setores conservadores se rearticularam e partiram para a ofensiva, resultando no início da onda proto-fascista na sociedade brasileira, começando com a criminalização dos black blockers. Aqueles que não contestaram as mentiras/difamações/manipulações dos governantes e da grande mídia com relação aos insurgentes, de maneira velada, colaboraram para o crescimento do conservadorismo entre final de 2013 até os dias atuais. Simultaneamente, os oligopólios de comunicação de massa, em conluio com os demais governantes, buscaram fazer acreditar que as forças de repressão eram vítimas, e os manifestantes, “bandidos”. Assim, a polícia passou de vilã à mártir. Essa foi a gênese da proliferação do ativismo conservador agressivo existente na atualidade. Compreender bem 2013 é condição sine qua non para entender a nossa sociedade atual e o crescimento proto-fascista ulterior.”