Livro: "A Estranha Química dos Filmes e Comerciais de Televisão: DIssertação de Mestrado apresentada à USP em 2006"

Esta dissertação de mestrado foi apresentada em 2006, simultaneamente, aos seguintes departamentos da Universidade de São Paulo: Instituto de Física, Instituto de Química, Faculdade de Educação e Instituto de Biociências, com a finalidade de obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências.Meu orientador foi o Prof. Dr. Nelio Bizzo (FEUSP) e a banca examinadora foi composta por ele em conjunto com o Prof. Dr. Attico Chassot (Unisinos) e a Profa. Dra. Maria Eunice Ribeiro Marcondes (IQUSP).A idéia para este projeto surgiu a partir do que hoje eu consigo identificar como uma inspiração (um chamado inconsciente) para trilhar um caminho inovador, utilizando meus conhecimentos de Química para explorar o fascinante mundo dos comerciais de televisão e dos filmes, áreas essas que raramente se cruzam.Foi muito recompensador ter a oportunidade de analisar a fundo, num trabalho acadêmico, alguns conceitos de Química que são tratados pelos comerciais de televisão e pelos filmes. Que mundo excitante de explosões devastadoras e de ácidos terrivelmente corrosivos! Esse fascínio, no entanto, tem como conseqüência a apresentação de conceitos e idéias que não podem ser reconhecidos como válidos pela própria Química. O presente trabalho se concentrou, portanto, na identificação desse “desvirtuamento” da Química.Acredito que tal análise seja de grande importância, pois os conceitos e idéias de Química apresentados pelos comerciais de televisão e filmes podem influenciar negativamente as noções iniciais de Química que o aluno leva para a escola, resultando em trabalho extra ao professor dessa disciplina.Além dessa importância acadêmica para o Ensino de Ciências, acredito que este trabalho possa ainda ser de interesse às pessoas em geral, ligadas ou não ao ensino, porque existe uma certa curiosidade em todos nós em tentar desvendar o mundo mágico e sedutor do cinema e da televisão, buscando um confronto direto entre o que ali é apresentado e o que a concretude lógico-racional de nossas ciências tem a dizer sobre isso. Talvez o leitor se sinta algo vingado ao participar de uma pequena tentativa de confrontar o mundo dos sonhos com o da ciência.
RESUMO:Este é um estudo exploratório que compara as idéias apresentadas pelos alunos, sobre os conceitos de combustão e acidez, com a forma que alguns filmes e comerciais de televisão lidam com esses conceitos.Nosso objetivo foi identificar possíveis fontes socioculturais que podem influenciar a formação das idéias dos estudantes, tomando-as como artefatos culturais. Decidimos, então, analisar alguns filmes e os comerciais de televisão que veiculam mensagens parecidas com as idéias de estudantes, descritas em artigos da literatura internacional especializada em ensino de ciências.As idéias dos alunos sobre diversos conceitos químicos muitas vezes diferem dos modelos explicativos da ciência sobre os fenômenos químicos. Podemos aqui destacar os modelos explicativos para a combustão e para as características físico-químicas de um ácido.Analisando-se uma seleção de comerciais de televisão, notou-se que alguns deles lidavam com o fenômeno da combustão e também caracterizavam um ácido de modo semelhante às idéias dos alunos, embora obviamente nenhum dos filmes ou comerciais selecionados tivesse intenções didáticas na apresentação conceitual de química.Os resultados trazem importantes dados para a discussão das influências socioculturais nas idéias dos estudantes.Algumas idéias dos estudantes (tratadas na literatura especializada como “misconceptions”, “alternative frameworks”, etc) são entendidas em muitos estudos como construções individuais originais, mas podem ser o resultado do contato com artefatos culturais veiculados pela TV do mundo inteiro.