Caros leitores, estas páginas que verão a seguir tratam da história de vida de meu sogro, já falecido. Homem íntegro e de boa índole, médico de profissão, teve, da mesma forma que meu próprio pai, a vida regida pelas Moiras ou pelas Parcas, as fiandeiras que tecem a trama do destino segundo gregos ou romanos, respectivamente. Durante sua juventude, ainda como estudante de Medicina em Niterói, foi envolvido no episódio da nossa História conhecido como Integralismo e, preso, passou alguns anos na Ilha presídio de Fernando de Noronha. Ali, no meio de companheiros de infortúnio, ajudava a todos com seus conhecimentos da ciência médica, o que lhe granjeou a amizade dos que lá residiam, inclusive dos ilhéus e dos carcereiros, posto que ali, naquele rincão isolado do território nacional, não havia médicos. Já no próprio dia de sua chegada àquela ilha, atendeu alguns moradores que se haviam ferido na capotagem de um veículo, fazendo curativos e procedendo a amputações. Mesmo sendo apenas um estudante de Medicina do quinto ano, era constantemente chamado pela administração do presídio para atender pacientes enfermos, tanto moradores da ilha, quanto companheiros de infortúnio e membros da guarda prisional.Graças ao esforço e a tenacidade de seu pai Luiz Rosati, descrita, inclusive, no livro de John W.F.Dulles “Sobral Pinto A Consciência do Brasil” (livro este que trata da biografia do ilustre advogado Sobral Pinto em sua cruzada contra o regime Vargas, de 1935 a 1945), através do seguinte texto de Dulles, constata-se que, em razão da atuação de Sobral Pinto, Renato foi libertado mais cedo do que o previsto em sua condenação: “Noticias melhores chegaram do Tribunal de Segurança Nacional – TSN, graças a Luiz Rosati, pai de Renato Rosati, um dos estudantes de Niterói condenado a três anos e quatro meses de prisão. Luiz procurou homens de influência que pudessem exercer pressão sobre os juízes. Sobral, concordando com o método do Sr. Rosati, observou que, ‘em vista do caráter meramente político do TSN’, era importante que pessoas influentes no governo fizessem saber ao tribunal que eram favoráveis a uma sentença menor para Renato. E revisou os argumentos legais com Luiz Rosati. A pena de Renato foi reduzida a um ano, e ele foi libertado, já que o tempo que cumprira na prisão ultrapassava este período. Sobral, decidindo voltar aos casos do TSN, obteve a revisão das penas de casos similares ao de Renato, e esses clientes foram libertados em janeiro de 1940” (Dulles,J.W.F. Op.Cit. pag.143).Voltando a residir em Niterói, onde terminou o curso de Medicina, por vários anos seguidos sempre que conseguia um emprego como médico, em algum hospital público, pouco tempo depois era sumariamente demitido, fruto das perseguições que ainda eram movidas pelo governo de Getúlio, tanto contra Integralistas quanto contra Comunistas.Em que pesem todas essas vicissitudes, conseguiu formar uma clínica particular naquela cidade, onde casou, teve três filhos e construiu sua vida. Ao longo da carreira médica, nas várias especialidades em que atuava (Ortopedia, Ginecologia e Urologia), teve a oportunidade de salvar muitas vidas e de propiciar o nascimento de outras tantas, das quais acabava, quase sempre, sendo o padrinho, a pedido dos pais.Um de seus filhos e vários de seus netos lhe seguiu o exemplo, trabalhando na área da Saúde, três como médicos e dois como cirurgiões-dentistas.O presente relato é fruto de longas conversas que com ele mantive, bem como de material por ele mesmo coletado durante sua vida, além de pesquisas históricas por mim realizadas. Tendo se passado sete anos da data de seu falecimento, e cem anos do seu nascimento, resolvi colocar no papel aquelas histórias que ele costumava contar, por vezes emocionado, aos filhos e netos.Objetivando um tom mais coloquial, resolvi que o próprio Renato contaria a história da sua vida para o público leitor. Ao final, no Epílogo, volto a tomar a pena em seu lugar.
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