Livro: "A Menina que Decidiu Voar"

Leandra perdeu o medo que ele pudesse matar o seu corpo físico, pois a sua alma já estava morta com os incontáveis estupros que sofreu dos sete aos dez anos de idade praticados pelo seu primo. Aos 16 anos ela decidiu contar tudo o que passara na sua infância. O que ela não podia imaginar era a enxurrada de críticas e acusações que lhe fizeram! Ela teve de aguentar de pé as palavras e o desprezo. Sentiu o que muitas vítimas sentem: o medo, a vergonha e depois, a frustação de ainda ser acusada de ser “fácil” ainda que apenas tinha sete anos de idade quando o seu inferno começou! Mas enfim… ela tinha aceitado os doces e por isso deveria levar a culpa. Teve o amor e o apoio incondicional dos seus amados pais que não puderam fazer nada além de chorar com ela e dividir a tão grande dor que até então era só dela. Ela tinha a eles como o seu suporte e porto seguro, e isso lhe bastava.A sua vida perdeu a cor, apenas restavam as lágrimas e a esperança que um dia ela poderia ir embora para bem longe do povoado do seu sofrimento. Para fugir daquele lugar, aos 16 anos conheceu um homem mais velho, divorciado por duas vezes e pai de 3 filhos. Ele poderia ser a chance de Leandra ir embora. E assim o fez. Casada chegou no aeroporto de Lisboa em Junho de 2003, onde pela primeira vez ouviu a palavra; casamento infantil, mas foi dissipada rapidamente pela certidão de casamento e uma boa conversa do então marido. No ano seguinte, como podia-se prever o casamento não deu certo, Leandra era só uma menina tentando fugir da sua tragédia. Com 17 anos ela estava nas ruas da cidade da Amadora em Portugal, sozinha, com fome e sem ter para onde ir, para não desfalecer teve de roubar uma banana e 3 uvas no supermercado Pingo Doce, dormiu na rua onde os piores medos e arrepios aproximaram com os passos dos trausentes noturnos. A rua lhe deu mais medo do que a morte. Leandra decidiu acabar com a própria vida, mas uma voz a “impediu”… e então ela deu a si mesma uma chance de continuar viva e tudo mudou.