Livro: "A obra-prima de Aristóteles"

SINOPSE:

“É estranho ver como certas coisas são desprezadas apenas porque são comuns, embora sejam, em si, merecedoras das mais sérias considerações. Este é o caso específico do assunto que tratarei agora. O que é mais comum do que gerar filhos? E o que é mais maravilhoso do que o poder plástico da Natureza, pelo qual as crianças são formadas? Pois, embora esteja presente na própria natureza de todas as criaturas uma inclinação que as leva a produzir uma imagem de si mesmas, a forma pela qual essas imagens são produzidas, após terem sido satisfeitas essas inclinações, contudo, só é conhecida por aqueles que rastreiam os meandros das câmaras secretas da Natureza, os obscuros recessos do útero, onde este embrião é formado. Esta é a origem que responde ao comando Divino – crescer e multiplicar. A inclinação natural e a propensão de ambos os sexos em direção uns aos outros, somados ao poder plástico da Natureza, é apenas a energia da primeira bênção, que até hoje sustenta as espécies da humanidade no mundo.”
Escrito na Inglaterra do final do século XVII, A obra-prima de Aristóteles (Aristotle’s Masterpiece, no original) foi um dos primeiros e mais bem sucedidos manuais sexuais do Ocidente. Reeditado continuamente até o século XX, permaneceu como uma das únicas referências, para um sem número de famílias, sobre questões como sexualidade, saúde íntima, gravidez e parto, comportamentos e desejos sexuais. Desprezado como vulgar por muitos contemporâneos, o livro encontrou tamanho sucesso e receptividade justamente por apresentar respostas (ainda que muitas delas erradas ou incompletas, considerando-se os conhecimentos atuais que temos sobre os temas), em épocas e locais em que não existiam espaços ou momentos sociais adequados para se ensinar e aprender sobre esses assuntos.
O livro é um guia sobre questões sexuais: discute a fisiologia envolvida no processo de reprodução, as razões pelas quais a concepção acontece, as melhores maneiras de um casal conseguir gerar um filho, além de apresentar uma série de remédios, dos mais diferentes tipos, para problemas como falta de desejo, facilitação do parto, diminuição das estrias na gravidez, enjoo feminino, além de “técnicas” para descobrir se o casal é infértil, se a concepção ocorreu, ou se o filho que vai nascer é menino ou menina.
Sua notoriedade, bem como sua permanência na memória popular, talvez possa conceder ao livro o título de “obra prima”. Mas, certamente não era de Aristóteles. Originalmente, o nome do filósofo grego foi utilizado por conta do sucesso de outro texto, também relacionado a temas sexuais, que circulava na Inglaterra do período: os Problemata eram um conjunto de perguntas e respostas, cuja autoria era associada a Aristóteles. Seu nome acabou se tornando sinônimo de “especialista em questões sexuais” ou “obra relacionada a questões sexuais”. Desta maneira, esses primeiros leitores identificariam “Aristóteles” como uma espécie de código que indicava o tema sexual da obra.

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