Livro: "Cálculo como prática cultural na literatura moderna"

A oposição entre ciências quantitativas e humanidades é um problema bem conhecido dos debates culturais, juntamente com sua reflexão nas abordagens conflitantes das humanidades digitais. Como a ênfase passou de métodos científicos de quantificação de longa data para a virada digital geral da vida cotidiana, esse processo lança luz sobre as diferentes condições socioculturais para cálculos nas sociedades modernas. Consequentemente, os números não podem ser concebidos como propriedades inerentes às coisas por meio da descoberta através da experimentação e explicação: essa concepção essencialista parece ter origem em um mal-entendido da pesquisa científica do século XIX e sua reivindicação de objetividade. Em vez disso, a quantificação e as matrizes culturais do cálculo constroem uma imagem rastejante servindo como uma interface entre mundo e mente. Nesse sentido amplo, a vida cotidiana é profundamente permeada pelos números. Além disso, a capacidade de cálculos não pode mais ser tratada como uma habilidade uniforme. Em vez disso, varia de acordo com diferentes formas culturais e funções. As práticas baseadas em números também são amplamente representadas na literatura moderna e em obras não literárias, como estar nas cartas e diários de muitos escritores. O ensaio pretende, assim, analisar e comparar as formas de cálculo nos romances e diários de alguns escritores da Europa Central Oriental — como Kafka, Kosztolányi, Musil — que prosperaram nas primeiras décadas do século XX. Ao fazê-lo, descreve três modelos através dos quais o cálculo como prática cultural entra no campo da literatura.