Livro: "Cosmovisão africana no Brasil: elementos para uma filosofia afrodescendente (Coleção X)"

SINOPSE:

A ética dos pés que Dona Ivone Lara ensina adverte-me aqui que é com a cabeça baixa que preciso adentrar nos mistérios que a sabedoria de um grande filósofo como Eduardo Oliveira me lega.Sendo um dos maiores nomes da filosofia brasileira, adjetivamente brasileira como dizia Gerd Bornheim, sobretudo pela unidade (na multiplicidade) teórica que sua Obra apresenta, Duda parece escrever com os pés, como os caboclos que, segundo o ponto, não têm caminho pra caminhar e que, por isso, “caminha por cima das folhas, por baixo das folhas, por todo lugar”.Não tendo direção prévia, a não ser a que sua ancestralidade lhe legara, Duda, na construção desta Trilogia da ancestralidade, abre seus próprios caminhos, trilhando vias que podem nos levar a lugares que, antes, a filosofia (ocidental) nunca poderia imaginar.Também, como nos ensinam os encantados das florestas brasileiras, se “pra pisar na folha da macaia tem de saber pisar, se não pisar direito você vai escorregar”, com a escrita apresentada nesse triplo gesto de encantamento, Duda pisa de modo certeiro nas folhas da Jurema que o vento soprou nas matas. “Ele pisa firme, balanceia e sai andando”. E o vento vai soprando, as folhas vão caindo, e ele, recolhendo-as cuidadosamente, nos oferece sua beleza em forma de texto.Com seus pés descalços no chão, o filósofo da ancestralidade, com seus ensaios de filosofia africana, firma seu ponto riscado e escreve ora com o pilão, ora com o ofá, com o abebé, com a espada, o oxé, o ibiri, o opelê, o opon ou o ogó, entre tantas ferramentas de escritura que lhe são ofertadas pelos que lhe antecederam. E isso, com um estilo que consegue aliar afeto, didática e complexidade.Caboclado, Duda parece, pelo menos a mim pareceu, nos convidar: “pisa na minha aldeia, caboclo, pisa mas não bambeia”. Sua escrita encantada nos convida ao caboclamento, mas a advertência do convite, que Duda nos faz para pisar nessa aldeia de filosofias e afetos que é a trilogia da ancestralidade, a de que não podemos bambear, nos remete ao imperativo de Dona Ivone: devemos entrar nessa aldeia como quem entra, pela primeira vez, nas matas, guiados por quem veio antes e que sabe onde cada passo precisa ser dado para que o encanto não se assuste e, de nós, saia correndo para sua toca.Viva a ancestralidade! Viva Duda!
Rafael Haddock-Lobo

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