Livro: "Do Bullying ao Trote Universitário: considerações dialéticas sobre educação e civilização na barbárie"

O livro dá continuidade a uma pesquisa de longa duração, cuja primeira parte foi publicada com o título de “Educação e Civilização na Barbárie: Considerações a partir do conceito de trabalho”. Aqui, acrescenta-se uma discussão não enfrentada naquela publicação, mas também pretende compreender o papel potencializador da educação no processo civilizatório, a partir da fortuna crítica que trata dessa temática. Parte-se da experiência coletiva motivada pelas discussões com os discentes da graduação e da pós-graduação. Debates que conduzem a uma instigante tese matriz que orienta as reflexões e análises presentes no livro: um sujeito mais bem educado (em termos de educação formal/cultura letrada) não é garantia para a constituição de uma humanidade menos bárbara. O presente livro recorre ao fenômeno do bullying e do trote universitário, aqui tomados como ponto de partida para se refletir e problematizar outras questões que sugerem temas aderentes e afins. A análise segue esse fluxo. A abordagem inspira-se no insights provocados pelos diálogos com os alunos e alunas e o devido adensamento da discussão que viabiliza a abertura de outras frentes de investigação, mas todas em estreita harmonia com o ponto de partida. Apesar de o título do livro sugerir que se trata de um tratado sobre bullying e trote universitário, ambas as práticas são apenas fio de Ariadne a tecer as reflexões que antecedem e procedem da análise originada na problematização sobre o vínculo entre o ser humano, a educação e a cultura/civilização. Isso porque ambas as práticas têm a ver com comportamentos violentos que acontecem em vários espaços, em especial em instituições educacionais (públicas, particulares, religiosas, militares) das quais se espera, ao menos em tese, encontrar as condições mínimas para se garantir, promover, produzir, socializar e ampliar parte significativa da experiência potencializadora sintetizada no universo simbólico (imaterial) e as inúmeras objetivações (não simbólicas) produzidas pela humanidade. Ainda que a cultura não seja uma entidade sacrossanta (e não é), é espantoso o fato de que, no nosso tempo presente (que os alemães denominam de Zeitgeist – “espírito/cultura” do tempo), episódios de barbárie ocorram justamente no ambiente educacional, protagonizados, a imensa maioria, por meninos, ainda na educação básica, e rapazes, dos mais variados cursos, na educação universitária. constitutivas da mesma e conflituosa realidade. Compreender esse dinâmico e contraditório processo é um passo importante para se realizar uma possível reconciliação não forçada (ou negação determinada) do indivíduo com sua “natureza animal” e, dessa forma, minimizar a danificação do humano engendrada pela própria civilização. Ao contrário da negação abstrata – ahistórica e não dialética –, a negação determinada é o principal dispositivo que compõe a elaboração do passado – filogenético (da espécie – sapiens) e histórico-social (do gênero Homo), tese defendida na terceira parte do livro, Cultura e educação: reconciliação autodeterminada com a natureza.