[por Chico Lopes]Antonio Luiz Fontela, que publicou “Memórias de um Descasado”, livro confessional sobre o seu casamento desfeito, e “Pedalando”, narrativa em que fez uma incursão pelo mundo espírita, teve durante bom tempo a coluna “Uísque com Guaraná”, publicada no “Jornal da Cidade” de Poços de Caldas. Junto com memórias revividas dessa coluna, e poemas de lampejos líricos e irônicos, ele frequenta a Internet com regularidade, mantendo páginas no Facebook onde é sempre bastante lido.Sua estreia em e-book dá-se agora, com este DO OUTRO LADO DA LUZ, uma série de contos em que, trafegando por um universo brasileiro de cafajestadas, crimes, superstições e horrores sociais, deixando claro seu “alter ego” (advogado é profissão na qual se aposentou, advogados comparecem abundantemente no livro), ele parece ter “recebido o santo” de dois nomes da Literatura brasileira: o dramaturgo Nelson Rodrigues e o escritor curitibano Dalton Trevisan.Do primeiro, Fontela guarda o interesse por histórias do tipo “A vida como ela é”, consagradas pelo colunista pernambucano radicado no Rio de Janeiro. Essas histórias ficaram famosas falando de mulheres traidoras, homossexuais, cafajestes, maridos uxoricidas, falências, suicídios e impulsos sexuais misturados com a misoginia e a morte. De Trevisan, herdou o interesse pela vida sórdida de pequena classe média em casos de amor, desencontros e “guerra conjugal” expostos, tal como em Trevisan, com diálogos curtos, ríspidos, e indo direto ao que interessa. A ferida da miséria humana está escancarada e Fontela aprecia tratar os assuntos mais “cabeludos” com despudor e franqueza.Numa clara misoginia, Lúcifer, no primeiro conto, de amor-horror, é uma mulher. O terror que ela, “Lu” (diminutivo evidente), inspira, é indissociável do medo e do desejo que o homem sente por ela. Medo de seu poder sexual, medo de seu poder econômico, de sua clara intenção de possuí-lo.Na primeira parte desse livro, veremos sucessivas demonstrações da presença de um Demônio. Ele é uma figura da superstição popular e religiosa, mas é também o desejo incontrolável de alguns machos que preferem crer que, ao dar vazão aos seus impulsos de sexo violento, não são culpados. É Ele, Lúcifer, quem age neles. Invariavelmente, homens, casados ou simplesmente solteiros apaixonados, matam mulheres, garotos pobres matam homossexuais com os quais vão para a cama, enojados, e temos aí um painel da psicologia primária de brasileiros tortuosos que, colocados em situações extremas, se saem muito mal: o caminho do suicídio é também escolhido, as falências desesperam, os casamentos fracassam, a ganância material produz monstros, como aquele homem inicialmente rico e esnobe que cai na regressão absoluta, reduzido a pedir sorvete, infantil e desesperadamente, nos bares. É um sem-fim de tragédias de folhetim, de horror reprimido, dos interesses mais baixos, dos atos mais descarados.Teríamos um verdadeiro compêndio de psicopatologia popular neste livro se a dosagem de humor não o salvasse do horror. Porque Fontela, tanto escrevendo quanto pessoalmente, tem seu lado brincalhão, que se compraz na piada e, mesmo ao narrar histórias um tanto grotescas, sabe criar desfechos surpreendentes e às vezes francamente cômicos. Isso é notável em “Viúva negra”, “Papo de anjo” e na curiosa lembrança de um homossexual popular na cidade, uma crônica em que Fontela deliberadamente colocou pessoas reais de seu tempo. O homossexual tem algo do carioca “Madame Satã”, porque é temido por sua paradoxal macheza agressiva. E em várias histórias Fontela lembra “anos dourados” (que foram também, como ele assinala, “anos de chumbo”), falando da Ditadura dos anos 60/70 e tocando em feridas históricas.A crueza em Fontela é um estilo. São contos sem compromissos com rodeios e sutilezas psicológicas: sexo, loucura, violência e morte estão lá. Mas também estão lá as possibilidades de rir, mesmo que com um punhal nas costas. A vida é tragicômica e Fontela sabe bem disso.
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