Livro: "E AS IDEIAS DESMANCHAM NO TEMPO: Raízes das guerrilhas urbanas no Brasil e Argentina"
SINOPSE:
Nas palavras do ex-militante de ALN, “um livro escandaloso”.
A ALN foi fundada em 1968 por membros do Agrupamento Comunista de São Paulo, entre os quais Marighella e Joaquim Câmara Ferreira, com formação stalinista de décadas de militância no PCB. Apesar disso, criaram uma ALN, com forte conotação anarquista – sem comando centralizado, com autonomia de atuação dos grupos, sem comitê central, etc.
Em maio de 1970, a ALN realizou em Pedra de Guaratiba, estado da Guanabara, uma reunião para avaliação dos estragos feitos pela ofensiva da repressão iniciada em setembro de 1969, em consequência do sequestro do embaixador americano. Apesar do saldo de 13 militantes com experiência armada, a decisão foi por uma ofensiva militar contra a ditadura. Uma decisão suicida. A ALN que começara com oito mil membros, terminou em 1974 com poucos gatos pingados entre Rio e SP.
No mesmo maio de 1970, 10 montoneros sequestraram, julgaram e executaram o general Aramburu. Em função do sucesso dessa ação, a organização que começou com 12 militantes entre Buenos Aires e Córdoba, chegou a ter 100 mil e influência sobre um milhão.
O que houve no Brasil e Argentina nos anos 1960-1970? Na Argentina foram mortas e desaparecidas cerca de 30 mil pessoas. No Brasil, ao contrário das estimativas oficiais que apontam menos de 500 mortos e desaparecidos, houve cerca de 5 mil – só de uma vez, os militares mataram dois mil índios waimiri-atroari que se opunham à construção de uma estrada em suas terras. Por acaso índios não são pessoas? Além disso, militantes sem família de classe média, camponeses e miseráveis foram mortos e não computados.
Os guerrilheiros urbanos de ALN e Montoneros representam os últimos combatentes românticos. Depois deles, a contradição principal passou a ser não mais capital/trabalho, mas sim entre “democracia” e Estado Islâmico, ou grupos radicais sem ideologia de esquerda.
A origem de certos “paradoxos” da esquerda revolucionária dos anos 1960-1970 está na confusão da primeira metade do século XX, com as esdrúxulas análises da Terceira Internacional.
Na década de 1920, o Partido Comunista Alemão, KPD, se aliou ao Partido nazista contra a social-democracia, SPD, que governava a Alemanha, vista como inimigo principal. A causa? A Revolução espartaquista de 1918-1919, sob Karl Liebknecht e Rosa de Luxemburgo. Friedrich Ebert, dirigente do SPD, deu ordem aos Freikorps para liquidar os revolucionários. Aqueles encontrados com armas eram sumariamente fuzilados, entre eles Liebknecht e Rosa, cujo corpo foi encontrado cinco meses depois num canal de Berlim.
Nos anos de 1930, Getúlio e Perón, seguiram o exemplo fascista de Mussolini: buscar uma conciliação de classes, ameaçando as respectivas burguesias com a possibilidade de uma iminente revolução, e subornando os trabalhadores com concessões como jornada de trabalho de 8 horas, folga semanal, carteira de trabalho, aposentadoria.
Perón e Getúlio tinham projetos fascistas para as respectivas sociedades. Porém, ao contrário da Europa dos anos 1920, não havia a ameaça do “perigo comunista”.
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