Livro: "Ensaio Sobre As Vistas De Newton Sobre O Espaço, O Tempo E O Movimento"

Isaac Newton fundou a mecânica clássica na vista de que o espaço é distinto do corpo e que o tempo passa uniformemente sem considerar se algo acontece no mundo. Por isso falou de espaço absoluto e de tempo absoluto, de modo a distinguir estas entidades das várias formas pelas quais as medimos (a que chamou espaços relativos e tempos relativos). Da antiguidade ao século XVIII, visões contrárias que negavam que o espaço e o tempo são entidades reais sustentavam que o mundo é necessariamente um plenário material. No que diz respeito ao espaço, consideram que a ideia de espaço vazio é uma impossibilidade conceptual. O espaço não passa de uma abstração que usamos para comparar diferentes arranjos dos corpos que constituem o plenário. Em relação ao tempo, insistiram, não pode haver lapso de tempo sem que a mudança ocorra em algum lugar. O tempo é apenas uma medida de ciclos de mudança no mundo. Associada a estas questões sobre o estado ontológico do espaço e do tempo estava a questão da natureza do verdadeiro movimento. Newton definiu o verdadeiro movimento de um corpo para ser o seu movimento através do espaço absoluto. Aqueles que, antes ou pouco depois de Newton, rejeitaram a realidade do espaço, não negaram necessariamente que existe um facto sobre o estado de movimento real de qualquer dado corpo. Pensavam antes que o conceito de movimento verdadeiro poderia ser analisado em termos das especificidades dos movimentos relativos ou das suas causas. A dificuldade (ou, como Newton alegou, a impossibilidade) de fazê-lo constituiu para Newton um forte argumento para a existência de espaço absoluto.