Livro: "Ensaio Sobre O Estado Normativo da Lógica"

Consideramos que é uma coisa má ser inconsistente. Da mesma forma, criticamos outros por não terem apreciado (pelo menos as mais óbvias) consequências lógicas das suas crenças. Em ambos os casos, há uma falha em conformar as suas atitudes com as estritas lógicas. Geralmente, consideramos que os agentes que ficam aquém das exigências da lógica são racionalmente defeituosos. Isto sugere que a lógica tem um papel normativo a desempenhar na nossa economia racional; nos instrui como devemos ou não pensar ou raciocinar. A noção de que a lógica tem um papel tão normativo a desempenhar está profundamente ancorada na forma como tradicionalmente pensamos e ensinamos lógica. Para considerar apenas dois exemplos, Kant caracteriza o que ele chama de lógica “puramente geral” como encarnando as “regras de pensamento absolutamente necessárias sem as quais não pode haver qualquer emprego do entendimento” (A52/B76), que nos instruem não “como é e pensa o entendimento” mas “como deve proceder” (Kant 1974 [1800]: 16). Da mesma forma, Frege, na sua veemente oposição às tendências psicólogas do seu tempo, classifica a lógica, “como a ética” como uma “ciência normativa” (Frege 1897/1979: 228), cujas leis “prescrevem universalmente como se deve pensar se se deve pensar de todo” (Frege 1893/1903/2009 xv: Esta rubrica diz respeito à questão de saber se a tradição e as intuições que parecem subscrever estão corretas. Por outras palavras, trata-se da questão de saber se a lógica tem autoridade normativa sobre nós. E se acontecer, em que sentido se pode dizer exatamente fazê-lo?