Livro: "Estudo Biográfico: Hans-Georg Gadamer"

Hans-Georg Gadamer é a figura decisiva no desenvolvimento da hermenêutica do século XX – quase certamente eclipsando, em termos de influência e reputação, as outras figuras de destaque, incluindo Paul Ricoeur, e também Gianni Vattimo (Vattimo foi ele próprio um dos alunos de Gadamer). Treinado em bolsa neo-kantiana, bem como em filologia clássica, e profundamente afetado pela filosofia de Martin Heidegger, Gadamer desenvolveu uma abordagem distinta e completamente dialógica, alicerçada no pensamento platónico-aristotélico, bem como no pensamento heideggeriano, que rejeita o subjetivismo e o relativismo, abjura qualquer simples noção de método interpretativo, e compreensão de fundamentos no pensamento linguístico mediado. Empregando um estilo mais ortodoxo e modesto, mas também mais acessível do que o próprio Heidegger, o trabalho de Gadamer pode ser visto como concentrado em quatro áreas principais: a primeira, e claramente a mais influente, é o desenvolvimento e elaboração de uma hermenêutica filosófica; o segundo é o diálogo dentro da filosofia, e dentro da história da filosofia, no que diz respeito a Platão e Aristóteles em particular, mas também com Hegel e Heidegger; o terceiro é o envolvimento com a literatura, particularmente a poesia, e com a arte; e o quarto é o que o próprio Gadamer designa como “filosofia prática” (Gadamer 2001, 78-85) que engloba questões políticas e éticas contemporâneas. O carácter “dialógico” da abordagem de Gadamer é evidente, não apenas no papel teórico central que dá ao conceito de diálogo no seu pensamento, mas também no discursivo e dialógico, mesmo “conversador”, carácter da sua escrita, bem como no seu próprio compromisso pessoal com o envolvimento e intercâmbio intelectual. Na verdade, é um dos poucos filósofos para quem a ‘entrevista’ se tornou uma categoria significativa de produção filosófica (ver Hahn 1997, 588-599; também Gadamer 2001, 2003). Embora tenha identificado ligações entre o seu próprio trabalho e o pensamento “analítico” de língua inglesa (principalmente através do wittgenstein posterior, mas também Donald Davidson), e por vezes tenha visto as suas ideias tomadas por pensadores como Alasdair McIntyre (ver MacIntyre 2002), Ronald Dworkin (ver Dworkin 1986), Robert Brandom (ver Brandom 2002), John McDowell (ver Mcwell 1999, John McDowell 2002), e especialmente Richard Rorty (Rorty 1979), Gadamer é talvez menos conhecido , e certamente menos apreciado, em círculos filosóficos fora da Europa do que alguns dos seus quase contemporâneos. É, sem dúvida, um dos mais importantes pensadores do século XX, tendo tido um enorme impacto numa série de áreas, desde a estética à jurisprudência, e tendo adquirido um respeito e reputação na Alemanha, e noutras partes da Europa, que foram muito além dos limites habituais da academia.