Livro: "Estudo Biográfico: Richard Hare Mervyn"

Richard Hare deixou para trás na sua morte um longo ensaio intitulado “Uma Autobiografia Filosófica”, que foi publicado após a sua morte. A sua abertura é impressionante:Tive um sonho estranho, ou uma visão semi-acordada, não há muito tempo. Dei por mim no topo de uma montanha no nevoeiro, sentindo-me muito satisfeito comigo mesmo, não só por ter subido a montanha, mas por ter alcançado a ambição da minha vida, encontrar uma maneira de responder racionalmente às questões morais. Mas enquanto me preparava para este feito, a névoa começou a desafoar-se, e vi que estava rodeada no topo da montanha pelas sepulturas de todos os outros filósofos, grandes e pequenos, que tinham a mesma ambição, e pensavam que o tinham conseguido. E eu vim a ver, refletindo sobre o meu sonho, que, desde então, os vermes filosóficos esforçados tinham roçado os seus sistemas e mostrando que o feito era uma ilusão. (2002: 269)No entanto, a sua imaginação também poderia ser menos modesta: um bando de filósofos morais está preso debaixo da terra numa câmara cheia de fumo; falam com propósitos cruzados, e recusam-se a tomar o caminho para o ar livre que só ele descobriu. Era sua ambição ter elementos unidos de Aristóteles, Kant e Mill de uma forma logicamente cogente que resolveu os problemas fundamentais da ética (embora deixando negócios inacabados), e ele geralmente acreditava que ele próprio tinha conseguido isso. Durante grande parte da sua carreira, o seu “prescriptivismo” formou uma parte importante do currículo, certamente na Grã-Bretanha. A sua desilusão não foi ter persuadido os outros (um ocasional “nós prescriptistas” era sempre incerto de referência), e não ter deixado discípulos; uma vez disse a John Lucas que isto fez da sua vida um fracasso. No entanto, deixa para trás gerações de alunos gratos pela transmissão não de uma doutrina, mas de uma disciplina; e a posteridade, embora improvável de ratificar a validade lógica da sua teoria, terá razões para a admirar pela sua união de aparentes opostos, liberdade e razão, tradição e racionalismo, ecletismo e rigor.