Livro: "Estudo Biográfico: Śāntarakṣṣita"

Śāntarakṣita (725-788)] um dos mais importantes e fundamentais pensadores na história da filosofia budista indiana e tibetana. [2] As suas contribuições para o pensamento budista foram particularmente notáveis devido à sua posição histórica como um dos mais tarde intérpretes indianos do pensamento madhyamaka de Nāgārjuna (ca.ca. 1º-2º c.). Esta foi uma posição histórica que lhe permitiu considerar muitos desenvolvimentos importantes (dentro e fora da tradição Madhyamaka) que o precederam. [3] A alegação central da Escola Madhyamaka é que todos os fenómenos estão vazios (śūnyaśūnya) de qualquernatureza intrínseca, essência imutável ou modo absoluto de ser. Esta foi também a ideia central no pensamento de Śāntarakṣita, no entanto, foi comentador tanto em Nāgārjuna como em Dharmakīrti em igual medida. De facto, Śāntarakṣita tentou integrar o anti-essencialismo de Nāgārjuna com o pensamento logico-epistemológico de Dignāga(ca. 6º c.) e Dharmakīrti (ca.ca. 7º c.) juntamente com facetas de Yogācāra/Cittamtra[4] pensadas num sistema interno, mas fundamentalmente consistente. A sua integração inovadora das facetas dos três num quadro de análise madhyamaka é exemplar dos frutos únicos que beneficiam do seu local histórico. A síntese destes três grandes movimentos na filosofia budista indiana foi talvez a sua contribuição mais importante, entre muitos, para a tradição filosófica budista indiana. Esta síntese, que também foi assumida pelos seus discípulos (filósofos importantes por direito próprio) como Kamalaśīla e, em menor medida, Haribhadra, tem sido caracterizada como o último grande desenvolvimento na filosofia budista indiana. Śāntarakṣita foi um pensador dinâmico e um estudioso com amplitude e profundidade de conhecimento das tradições filosóficas indianas. Ele encorajou os seus leitores a envolverem-se ativamente com uma série de posições filosóficas não budistas e budistas, à medida que ascendiam a uma espécie de hierarquia de visões filosóficas, uma hierarquia que, na sua opinião, culmina na visão de Madhyamaka.No entanto, a contribuição de Śāntarakṣita para a filosofia budista como um todo não parou na Índia. Fez duas viagens ao Tibete e acabou por passar os últimos quinze anos da sua vida lá. Śāntarakṣita foi uma das figuras mais influentes na divulgação precoce do budismo no Tibete, fundando o primeiro mosteiro budista em Samyé (bsam yas), servindo como seu primeiro abade, ordenando os primeiros sete monges tibetanos, e estabelecendo um sistema de estudo filosófico rigoroso baseado nas tradições de aprendizagem nas grandes universidades monásticas budistas indianas como Nalanda e Vikrama. Em efeito, Śāntarakṣita (e mais tarde, o seu discípulo Kamalaśīla) ensinou os tibetanos a fazer filosofia.