Livro: "Estudo Filosófico Sobre A vida"

A vida é muitas vezes definida em manuais básicos de biologia em termos de uma lista de propriedades distintas que distinguem os sistemas vivos dos não-vivos. Embora haja alguma sobreposição, estas listas são muitas vezes diferentes, dependendo dos interesses dos autores. Cada tentativa de definição está indissociavelmente ligada a uma teoria da qual obtém o seu significado (Benner 2010). Alguns biólogos e filósofos até rejeitam toda a ideia de que existe uma necessidade de definição, uma vez que a vida para eles é um facto irredutível sobre o mundo natural. Outros vêem a vida simplesmente como aquela que os biólogos estudam. Houve três principais abordagens filosóficas para o problema da definição da vida que permanecem relevantes hoje em dia: a visão de Aristóteles sobre a vida como animação, uma propriedade fundamental e irredutível da natureza; A visão da vida de Descartes como mecanismo; e a visão de Kant sobre a vida como organização, à qual precisamos adicionar o conceito de variação e evolução de Darwin através da seleção natural (Gayon 2010; Morange 2008). Além disso, podemos adicionar a ideia de definir a vida como uma propriedade emergente de determinados tipos de sistemas complexos (Weber 2010).O foco desta entrada é principalmente as tentativas de definir a vida durante o século XX com o aumento da bioquímica e da biologia molecular. Mas este foi o século que assistiu ao surgimento da inteligência artificial, da vida artificial e da complexa teoria dos sistemas e, por isso, a preocupação inclui estas perspetivas. Os seres animados partilham uma gama de propriedades e fenómenos que não são vistos juntos em matéria inanimada, embora possam ser encontrados exemplos de matéria exibindo um ou outro destes. As entidades vivas metabolizam, crescem, morrem, reproduzem-se, respondem, movem-se, têm estruturas funcionais organizadas complexas, variabilidade herdável, e têm linhagens que podem evoluir ao longo do tempo geracional, produzindo novas e emergentes estruturas funcionais que proporcionam uma maior aptidão adaptativa em ambientes em mudança. A reprodução envolve não só a replicação dos ácidos nucleicos que transportam a informação genética, mas também a construção epigenética do organismo através de uma sequência de etapas de desenvolvimento. Esta reprodução através do desenvolvimento ocorre dentro de um ciclo de vida maior do organismo, que inclui a sua senescência e morte. Algo que está vivo tem estruturas organizadas e complexas que executam estas funções, bem como a deteção e resposta aos estados do interior e ao ambiente externo e ao envolvimento em movimentos dentro desse ambiente. Há que recordar que os fenómenos evolutivos são um aspeto inextricável dos sistemas vivos; qualquer tentativa de definir a vida na ausência desta perspetiva diacrónica será inútil. Argumentar-se-á abaixo que os sistemas vivos podem ser definidos como sistemas abertos mantidos em estados estáveis, longe do equilíbrio, devido aos fluxos de energia da matéria em que ciclos autocatálticos informados extraem energia, constroem estruturas internas complexas, permitindo o crescimento, mesmo que criem maior entropia nos seus ambientes, e capazes, ao longo do tempo multigeracional. da evolução.