Livro: "Guia De Estudo Sobre A Filosofia da Libertação"

Filosofia da Libertação é o nome coletivo de um movimento filosófico e método de fazer filosofia que surgiu inicialmente na Argentina durante o final dos anos sessenta, mas que se espalhou por toda a América Latina durante o início dos anos setenta. É por esta razão que, por vezes, alguns críticos e historiografistas da filosofia de libertação fazem referência a uma conceção “rigorosa” e “ampla” da filosofia de libertação, a fim de se referir ao contexto imediato das suas primeiras articulações, e à sua posterior divulgação e desenvolvimento geral. A filosofia de libertação pertence à fase da “maturidade” dentro do período “contemporâneo” da filosofia latino-americana, se usarmos a periodização da filosofia latino-americana de Jorge J.E. Gracia e Manuel Vargas (Gracia e Vargas 2013). Sem dúvida, porém, a filosofia de libertação é a manifestação distinta da filosofia latino-americana que tem recebido a maior atenção internacional, e que teve a maior influência tanto na América Latina como nos Estados Unidos.Embora a filosofia da libertação esteja profundamente enraizada na história e nos debates da filosofia latino-americana, na medida em que se possa afirmar que é a resposta mais elaborada e substantiva à tarefa que articula uma filosofia latino-americana distinta, é, no entanto, também um capítulo dentro da história mais ampla da filosofia europeia. Mesmo que se defina como uma crítica ao eurocentrismo e à hegemonia da filosofia europeia, evoluiu e fez uso das suas correntes filosóficas, movimentos, conceitos e debates. Alguns podem argumentar que a filosofia da libertação pertence à fenomenologia, hermenêutica e marxismo, ou mais genericamente, materialismo histórico. Na verdade, porque muitos filósofos da libertação saíram destas diferentes tradições, a filosofia da libertação era e permanece desde o início um movimento internamente heterogéneo. Esta heterogeneidade aumentou à medida que alguns filósofos se envolveram naquilo a que Enrique Dussel chamou de “Diálogo Sul-Sul”, em que as filosofias do chamado “sul global” se dirigem diretamente umas às outras sem adiar a autoridade da filosofia euro-americana dominante (Dussel 2015).