SINOPSE:
A história da Estônia pode ser resumida por uma notável e copiosa lista de heróis obstinados em uma longa defesa da autodeterminação nacional-popular contra invasores e culturas estranhas que buscam de modo ou outro corroer sua liberdade em todos os domínios. Assim é exatamente, como veremos, a epopeia do filho de Kalev, o Kalevipoeg: o frondoso gigante loiro solitário, um tanto desajeitado é verdade, mas bem-quisto por Taara e por todos os deuses, protetor da natureza, amigo dos pequenos animais e do próprio povo. Tal como a Ilíada é uma alegoria nacional para o povo aqueu-heleno jovem e conquistador, o Lusíadas uma alegoria para o português aventureiro, e o Fausto para o erudito germânico, o Kalevipoeg é o símbolo da resistência estoniana, que mesmo diante de inimigos sempre mais numerosos, não dá passos atrás, mas salta à frente; mesmo quando lhe falta uma espada, o gigante estônio arranca uma árvore inteira e a transforma numa clava esmagadora; mesmo que os mais poderosos feiticeiros pareçam invencíveis, não lhes dá ouvidos aos encantamentos, mas subjuga a sombra e a ilusão com pensamentos honrados, atos nobres e punhos firmes. Despreza as facilidades de varinhas mágicas porque prefere fazer tudo com as próprias mãos e mérito. Sabe ser feroz em combate, como sabe ser alegre em festas. Tem a inocência de uma criança e a sabedoria de um filho dos deuses. Não dispensa tesouros, mas também não os guarda para si: empreende jornadas inusitadas em nome do bem-estar e segurança do diligente trabalhador estônio, preocupando-se em dar-lhe pontes, muralhas, casas e riquezas. E vítima, ao final, da consequência de um erro próprio (pois que como todo herói, Kalevipoeg comete imprudências, mas como raros experimenta o amargor do arrependimento) é ainda muito celebrado pela corte dos deuses e aguarda, pacientemente, pela grande conflagração final, onde se erguerá em defesa de sua terra e sangue. Esta tradução lusógrafa tem por referência o trabalho de William Forsell Kirby (1844-1912) notório entomologista e poliglota inglês conhecido pela tradução do épico nacional finlandês Kalevala que, mais tarde, influenciaria a formação de J. R. R. Tolkien (1892-1973) filólogo e autor do famoso O Senhor dos Anéis. Em suas anotações, Kirby pensou encontrar no Kalevipoeg estoniano uma simples variante do épico finlandês, mas o percebeu “tão distinto, e ao mesmo tempo tão interessante” que decidiu por publicá-lo num relato independente completo em prosa, algo inédito na língua inglesa de seu tempo. Privilégio tal que, agora acessível em português, fora prefaciado por contextualização historiográfica e apreciação cultural do livre-pensador J. O. Bilda conformes à nobreza própria da nação e cultura da Estônia.
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