Livro: "LAÇOS E NÓS: CRÔNICAS DE UMA DEFENSORA"

PARA DESFAZER NÓS E REFAZER LAÇOS
O que não é a vida senão um motivo literário? Como sobreviver a nós mesmos senão através da arte? E quando cada um de nós for só um nome num livro, uma assinatura num quadro, uma imagem no cinema, uma fotografia num museu, nem que seja num corredor da casa dos nossos filhos ou num porta-retrato no quarto de nossos netos? Não terá sido vã nenhuma vida que, porventura, não escreva, não pinte, não fotografe… para isso existem os cronistas, para registrar a vida acontecendo, ali, naquele momento, a vida vivida, sentida, a vida real transmutada em palavra. É um processo alquímico, até. São testemunhas do tempo os cronistas, costuradores de vidas. Assim é este livro, Laços e nós.
O que leva a defensora pública a escrever a respeito da vida de seus assistidos senão um profundo encantamento pela vida? Para desfazer nós e refazer laços. Quando escrevemos (e publicamos) algo sobre alguém, ligamo-nos a esse alguém por um fio tênue de memória, um cordão de prata ligando a nossa alma à alma de outras pessoas: Rebeca, Aurélio, Joel, Elisabete, Cibele, Francisco, a Sra. Lúcia, Paulo, Dona Raimunda, Joaquim, Nick, Ernesto, Clotilde, Luís, Andrea, Ricardo, Silvana, Alice, Joana, Laura, Ricardo, Rita, Lucas, Miguel, Edite, Gustavo, Moisés, Nicole, Joana, Maria, Pedro, José, André, Dona Cristiane, Flávio, Jorge, Dona Conceição, Alberto, Gustavo, Luzia, Pablo, Eliane, Cristina, Expedita, Edmar, Letícia, Dona Gonçala, Sr. Emanoel, Luana, Luiz, Rogério, Lucas, Mariinha, Agnaldo são nomes, apesar de fictícios, cujas histórias são de carne e osso, lágrima e sangue. E, ainda que fossem, o sentimento e o pensamento que motivam as histórias aqui contadas são tão reais quanto este livro que você tem nas mãos. E que livro!
A cada história, fica mais claro como a teoria, na prática, é outra! Por mais treinados que estejamos naquele campo de atuação profissional, nada, nenhuma teoria consegue abarcar a complexidade da vida, como diz a própria autora ao reconhecer, diante de uma certa situação, que remexeu “mentalmente tudo que estudei na preparação para tantos concursos… e nada!”: o caso de duas primas que haviam sido amigas confidentes mas que, agora, procuravam acionar uma a outra na justiça. Como essa tantas outras situações. Às vezes, a situação é, como diz a cronista, “juridicamente tão simples” mas “emocionalmente tão complexa”, pela diversidade das “fragilidades humanas, individuais e coletivas”.
O livro tem pérolas bem preciosas guardadas em microdetalhes da vida que, muitas vezes, negligenciamos por orgulho, raiva, medo, paixão… Todos estes sentimentos aparecem neste rico livro. A cena de Joel descobrindo de si nos olhos do filho, a voz firme de Cibele a procura não de qualquer pai, Alice chorando até dormir, o “amor visual” de Ricardo, Edite e seu quente “só se for agora!”, a “jovem expropriadora de nomes”, os 30 anos de amor de Dona Gonçala, a lucidez do menino Lucas, e mais tantas outras histórias que, mais do que impressionarem pelo inusitado de cada uma, ensinam não só a defensora escritora, mas a todos nós que nos damos à oportunidade de lê-las.
Descrição de LÉO MACKELLENE