Livro: "Lenga-Lenga de Quarentena"

Eu queria tentar escrever uma reflexão sobre esse período pelo qual estamos todos passando, mas eu não consigo pensar em nada que possa servir a tantos contextos diferentes e que abarque tantas vivências diferentes. Eu sei apenas sobre mim e mesmo sobre mim, não sei o que falar. Sobre esse livro, é uma escrita honesta pela pessoa que sou, a pessoa do nome real por trás desse pseudônimo criado para publicar aqui, quase anônimo. Nesses textos eu pensei em fazer uma separação entre os períodos que, ao mesmo tempo em que agradasse ao leitor, categorizasse sequências de textos entre si, pois, conforme os meses em que foram escritos, os textos muito se assemelham entre si (e pudesse pular o começo maçante e repetitivo). Porém, isso trairia um dos pontos fundamentais desse livro, desse meu diário (que chamo anuário por registrar apenas o ano e raramente os dias), que é o de demonstrar o quanto a quarentena se arrasta e me arrasta com ela. Além de tudo, separar em períodos poderia fornecer um contexto adicional que seria essencial para que o leitor pudesse compreender este que escreve, conseguir colocar o texto dentro de alguma realidade conhecida, familiar ao leitor. Eu não quero isso (mas separei os anos).Eu d’-screvo em símbolo e a infamiliaridade pode ser lida, percebida em pequenos traços, palavras aqui e ali que remetem a uma realidade até que compartilhada por nós brasileiros e é nisso, na palavra, que está meu mundo; um mundo tão estranho a mim quanto o será para vocês. Esses são os meus textos no Tao do brasileiro. Por que eu escrevi esse livro que publico? Não sei dizer bem porque eu escrevo, é uma compulsão e uma necessidade que eu tenho já há uns anos, é uma maneira de me manter vivo e são. Não sei porque eu escrevo. É como sentir fome ou sentir sede, come-se comida, bebe-se água; exceto que esses processos fisiológicos já foram bem explicados. Eu preciso desesperadamente escrever e é isso o que faço. Uma parte das coisas que eu escrevo, os contos, é o que publico, é o que já publiquei; todo o resto era reservado aos meus amigos e a mim.Eu escrevo, mas não sei tudo o que eu escrevo, eu mesmo preciso ler e tentar entender do que se trata aquilo. Mas da mesma forma que eu preciso desesperadamente escrever, eu precisei desesperadamente publicar tudo isso que foi produzido durante esse ano pandêmico. Tudo é demais, isso tudo que eu publiquei não é tudo o que escrevi, mas creio ser o suficiente. O meu dia a dia e a minha rotina está perdido, fragmentado em cada texto. Lendo você vai saber muito de quem eu sou, mesmo que não saiba o meu nome. É uma escrita honesta de puro desespero pelos dias desse ano em que a pandemia e a quarentena foram detalhes muito imponentes sem ser tudo. Em meio à pandemia, a vida humana acontece como sempre aconteceu… como sempre aconteceu para mim.Uma influência que tive para esse livro foi o de Charlotte Beradt, O Terceiro Reich dos Sonhos, ao menos na premissa de mostrar sonhos que as pessoas tiveram durante determinado período. Eu não tenho pessoas, mas tenho sonhos, os meus. Sonhos antes da quarentena e de quando a quarentena começou a apertar e de quando a normalidade foi forçada apesar da quarentena. Claro que não somente nos sonhos essas mudanças foram percebidas. Dedico esse livro aos amadores, aos psicanalistas e a quem se interessar.
Os conteúdos são: 106 sonhos, 150 textos indefinidos, 332 (acho) poesias e 17 contos — esse livro tá muito maior do que deveria ser, porra Bolsonaro — e seguirei adicionando textos até eu ser vacinado, acredito ser um bom marco já que até a vacinação chegar até mim ela já deverá ter passado pela maioria das pessoas e o Brasil terá entrado definitivamente na recessão econômica pela pandemia.