Livro: "Linguagem e as âncoras da Cultura: ensaios de Hermenêutica e Sociologia: Livro I: A linguagem como instrumento da integração social e codificação do seu mistério intrínseco"

SINOPSE:

(…) Os linguistas e (alguns) sociólogos estarão certos de acharem as dificuldades tratadas por Frege e B. Russel como se fossem ociosidades ou filosofemas supérfluos? Questões e paradoxos lógicos que, para Russel, deveríamos acumular porque os enigmas “servem ao mesmo propósito dos experimentos na ciência física” , são, muitas vezes, perplexidades artificiais? É isso o que uma mente científica mais técnica pode argumentar. Poder-se-ia dizer que os enigmas lógicos são reflexos de um desejo formal frustrado; o desejo vê problemas da denotação, de permutação, todos nascendo em correspondência à uma idealização normativa cuja violação lhe parece injusta. Para um linguista, o problema do grande artigo de Russel On Denoting poderia ser tratado como ordinária questão de equívoco ou ambiguidade linguística. Qual o enigma se uma paráfrase gramaticamente lícita intercambeia verdades lógicas por verdades contingentes? Achar que isso incrimina a gramática é confiar em apostas jurídicas exóticas. E acreditar que a relação social-linguística realizada na paráfrase é uma espécie de escambo ou comércio ilícito é uma prudência de puristas. (…)
(…) Fica a questão: que elemento normativo garante, financia, assegura a consolidação de uma “interpretação”, um “significado” e um “consenso”? E se não tivermos a opção fácil de apelar a um reino durkheiniano de “fatos sociais”, e nem recorrer a uma mera lista de exemplos históricos de consensos de sucesso, teremos que explicar o fundamento da dinâmica normativa de alguma outra maneira. O sociólogo pode até ser bem sucedido em diminuir as pretensões dos filósofos a dramas desnecessários, mas o custo é permanecer na parte não-dramática da questão do significado, que é também, a parte mais anódina. (…)
(…) Esses são alguns dos raros momentos no caminho profissional de um estudante de filosofia onde ele pode se orgulhar de estar à frente de seus pares. Enquanto cientistas sociais e psicólogos da segunda metade do século vinte gastaram energias caras tentando isolar a “ideologia” como um objeto malicioso, um código, representação, uma norma social ou um inconsciente, os filósofos já tinham, desde Kant, a consciência de que o que fundamenta as condições de possibilidade da representação objetiva não é, ele mesmo, representável como objeto. É claro que isso é apenas parte do que precisa ser compreendido. Pois a reconstrução do mundo subjetivo como “objeto” é o destino metafísico do homem que reconheceu que não é possível, na terra, criar nada de concreto sem sacrifício e poder social. Se o projeto de objetificação é um que diz respeito ao mais íntimo de nossos projetos humanos, é natural que quando os tentamos fazer objeto de ciência eles se dissolvam dialeticamente, como essências fugazes, ou, para a representação, não passam de mistérios, segredos, incognoscíveis. Objetificar a estrutura como os estruturalistas, portanto, seja com o propósito de Piaget – isto é, para representar a superioridade da civilização e da vida adulta sobre os primitivos e os infantes – seja com o propósito dos desconstutores ou des-estruturantes era cometer um erro parecido. Este erro era considerar a ilusão e o segredo que constituem essa tarefa do protagonismo conceitual-filosófico assim: como um objeto de estudo independente, não dialético, algo que poderia ter sido isolado in abstrato e manipulado em um laboratório, fazendo crescer “mentes” ou “relações de trabalho” onde quiséssemos que elas nascessem e, com a mesma facilidade, desenvolver vacinas ou agrotóxicos para matar “estruturas” quando não as quiséssemos mais.

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