Livro: "Lugar comum"
SINOPSE:
Assim como acontecia na infância de Nara, na casa de sua avó, com seus primos que chegavam, “feito torneira aberta”, estas crônicas e contos jorram com sabor de tempos bons e inesquecíveis, como quando todos os chocolates na venda eram a grande preocupação da menina durante a maior e assustadora enchente na cidade. O rio subindo, subindo sem parar, transbordando, engolindo quintais, ruas, quase invadindo o estoque de doces na venda do Zé Teixeira.
“O progresso falha, mas as estrelas resistem”. A tecnologia, os aplicativos, as redes sociais, falham, mas as recordações não se apagam no céu infinito da memória de Nara, até aquela da notícia sobre o fim do mundo, no rádio, que tanto assustou a menina que não teve coragem de abrir os olhos ao acordar de manhã. Mas o mundo não acabou naquela vez, ela cresceu, atravessou o oceano e agora está em Londres. E levou na bagagem “lembranças embaralhadas, coisa de infância bem vivida que se misturou com um punhado de sonhos”. “Poesia, contos e crônicas. Era a sua fortuna”. E parte desta riqueza está aqui neste livro.
E lá no outro lado do mundo, casada, durante uma tempestade de verão, testemunhou na janela de casa, com os rostos se iluminando com os relâmpagos, a filha pequena de mãos dadas com o pai, encantada e assustada com a chuva que desabava sobre a cidade, construindo uma lembrança, e que é “bem assim que vamos fazendo a vida”.
Lembranças de casas, lugares, pessoas, vizinhos, gente com muito “amor esparramado e uma generosidade que caía que nem manga madura do pé. Era de graça. Era pra quem quisesse pegar.” E a pequena Nara pegava, e guardava esses bons momentos que agora se esparramam pelo livro, que basta virar a primeira página para começar a pegar.
Um livro tal qual um pé de fruta madura, em tardes de sol, no quintal, sem mais nada para fazer senão saborear lembranças e um olhar sincero, delicado, poético, de uma menina que cresceu inconformada que no novo terreno agregado ao fundo da casa cresciam espinafres, salsa e cebolinha, e não a piscina tão desejada.
“Que gosto tem a vida?”, pergunta Nara em algum lugar do livro e começa a listar: de pipoca, queijinho, de curativo, beabá, bolo, brinquedos. Leite com mamão, pizza, flores. Tricôs e bordados. Caramujo com manteiga. Balas. Salsa e cebolinha do quintal. Uma música. Penteados, bailes. O primeiro beijo.
Que gosto tem esse livro? O gosto de vida.
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