Livro: "Lugar comum"

SINOPSE:

Ler este livro, no mínimo, vai deixar o leitor sem saber em que dia está; aqui, nestas páginas, todo dia é sábado e domingo, como na casa dos avós de Nara. E quando o leitor se vir no quintal da casa, na pequena Guarani, no interior de Minas Gerais, sentado no táxi feito com uma escada de madeira deitada sobre tijolos, não vai querer descer mais desse passeio pelas histórias dessa mineira que não via a hora de sair pelo mundo, desde criança. E um dia saiu. E com ela estão surgindo os seus livros. Logo vamos descobrir que era inevitável tal destino.
Assim como acontecia na infância de Nara, na casa de sua avó, com seus primos que chegavam, “feito torneira aberta”, estas crônicas e contos jorram com sabor de tempos bons e inesquecíveis, como quando todos os chocolates na venda eram a grande preocupação da menina durante a maior e assustadora enchente na cidade. O rio subindo, subindo sem parar, transbordando, engolindo quintais, ruas, quase invadindo o estoque de doces na venda do Zé Teixeira.
“O progresso falha, mas as estrelas resistem”. A tecnologia, os aplicativos, as redes sociais, falham, mas as recordações não se apagam no céu infinito da memória de Nara, até aquela da notícia sobre o fim do mundo, no rádio, que tanto assustou a menina que não teve coragem de abrir os olhos ao acordar de manhã. Mas o mundo não acabou naquela vez, ela cresceu, atravessou o oceano e agora está em Londres. E levou na bagagem “lembranças embaralhadas, coisa de infância bem vivida que se misturou com um punhado de sonhos”. “Poesia, contos e crônicas. Era a sua fortuna”. E parte desta riqueza está aqui neste livro.
E lá no outro lado do mundo, casada, durante uma tempestade de verão, testemunhou na janela de casa, com os rostos se iluminando com os relâmpagos, a filha pequena de mãos dadas com o pai, encantada e assustada com a chuva que desabava sobre a cidade, construindo uma lembrança, e que é “bem assim que vamos fazendo a vida”.
Lembranças de casas, lugares, pessoas, vizinhos, gente com muito “amor esparramado e uma generosidade que caía que nem manga madura do pé. Era de graça. Era pra quem quisesse pegar.” E a pequena Nara pegava, e guardava esses bons momentos que agora se esparramam pelo livro, que basta virar a primeira página para começar a pegar.
Um livro tal qual um pé de fruta madura, em tardes de sol, no quintal, sem mais nada para fazer senão saborear lembranças e um olhar sincero, delicado, poético, de uma menina que cresceu inconformada que no novo terreno agregado ao fundo da casa cresciam espinafres, salsa e cebolinha, e não a piscina tão desejada.
“Que gosto tem a vida?”, pergunta Nara em algum lugar do livro e começa a listar: de pipoca, queijinho, de curativo, beabá, bolo, brinquedos. Leite com mamão, pizza, flores. Tricôs e bordados. Caramujo com manteiga. Balas. Salsa e cebolinha do quintal. Uma música. Penteados, bailes. O primeiro beijo.
Que gosto tem esse livro? O gosto de vida.

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