Livro: "Metafísica e Sentido 1: Livro 1: As condições superestruturais do significado"

(…) da filosofia transcendental ao positivismo, a expressão ‘metafísica’ se tornou o alvo para a acusação de contrassenso e falta de sentido. Mas (…) ao mesmo tempo, ela se tornou o centro de uma acusação de ocultação ou esquecimento. E nesse ponto encontramos o segundo modo como essa disciplina flexível foi quase absolutamente repudiada nos tempos modernos: como um foco de proliferação de gnosticismo, ou a crença no acesso a conhecimentos herméticos, fechados, presentes em formulações culturais esotéricas, fontes de superfaturamento interpretativo, tal como na magia primitiva.
James afirma que “sabe-se quanto os homens têm suspirado por poderes mágicos ilícitos,e se sabe também a grande parte que as palavras sempre desempenharam na magia. (…) se temos o nome … podemos controlar o espírito. (…). Deus, matéria, razão, absoluto, energia, são muitos desses nomes encantados. Podemos repousar quando os temos. Chegamos ao fim de nossa pesquisa metafísica” .
É nessa segunda expressão que a metafísica foi usada como o bode expiatório de crítica empregada por uma tendência moderna ainda mais ampla do que o positivismo. Nesta nova onda, mesmo as convenções artificiais dos lógicos poderiam ocultar as relações estruturais dos signos, fixando a diferença entre necessário (analítico) e contingente (sintético) em uma proibição ainda dogmática, fundada na inquestionabilidade do jogo ou na hegemonia da norma convencional.
(…) Levi-Strauss chega a considerar a parte planejada conscientemente de nossas estruturas sociais como pobres perpetuações de relações estruturais mais profundas (…). Um modelo criado pelo cacique ou pelo sábio de uma tribo seria uma reinterpretação de um código cultural programado para defender suas fronteiras por dissimulações: seus mitos, seus sonhos, e até suas teorias psicológicas, seriam superinterpretações viciadas.
Sempre que o significado é construído por referência a uma interpretação ou modelo consciente, centrado na tradição, na história ou na sincronicidade da linguagem, ele mascara o ponto fraco-humano – o desejo, a relação de poder, o espírito da língua – que ele recodifica, o apresenta como um segredo. (…)