Livro: "Metafísica e Sentido 3: Livro 3: Aspectos da Inflação superestrutural do Significado"

No uso diário da linguagem, jamais temos tanta liberdade e autenticidade como sugere o mito de uma abertura originária da verdade, ou o mito da revisão lógica pura. O que temos é a coordenação entre todos os focos de codificação e os truísmos que se instituem no debate popular. Além disso há uma pressão do universo retórico – o equilíbrio do consenso – para se adaptar às atualizações que se inserem na linguagem.
(…) se a distinção entre linguagem e nao linguagem não pode ser dita, avaliada ou medida, a não ser por proposições filosóficas que “deixam tudo no lugar”, os modos de refletir sobre as condições de universalidade em que o significado é válido dependem do diálogo da linguagem consigo mesma – a inflação ou a perífrase. Dizer que não estamos mais na era do “mito” significa apenas que a ciência moderna se tornou a abastecedora desse universo de codificação. Não é mentira que, como disse Steiner: “as ciências enriquecerão a linguagem e a capacidade da percepção”.
(…) aa a ciência moderna – sem precisar recorrer a entidades sobrenaturais – supre nossa necessidade de passado, de história, com a dosagem certa de linhagem paradigmática e linhagem de revolução, dando um pedigree hermenêutico ao pragmatismo gratuito.
Mas com esse saber estamos desvendando apenas o início…
Seja através de um eu que transcende a si mesmo, um supereu, ou através de um sistema intersubjetivo de reconhecimento, ou ainda por meio de um acesso privilegiado à jurisdição eidética de uma região técnica, o erudito moderno já não está indefeso contra a imagem normativa eterna da ciência e da pós-metafísica.(…) enquanto se distingue da missão de construir uma Metafísica, selecionando os aspectos da realidade (físicos, espirituais, materiais, etc) mais próximos a otimizar um sistema da verdade global, a ciência moderna constriu, antes, algo levemente parecido: um cosmos universitário onde o protagonismo da ciência se reveza e é atravessado reflexivamente por si mesmo. Esse atravessamento do conceito foi enunciado pela primeira vez por Hegel. Pode-se dizer, de um ponto de vista da dialética pós-hegeliana, que a ciência moderna retoma o projeto metafísico de fundamentação última do conhecimento, mas em uma visão auto-monitorada da circulação desse saber que permite ao conceito transbordar… (…) a ciência – sem precisar recorrer a entidades sobrenaturais – supre nossa necessidade de passado, de história, a dosagem certa de linhagem paradigmática e linhagem de revolução, dando um pedigree ao pragmatismo gratuito.Mas com esse saber estamos desvendando apenas o início… É o modo como a ciência se enraiza normativamente na linguagem, de maneira colonizadora ou libertadora, hermética ou clara, servindo aos interesses de valores de vida ou de morte, o que interessa saber…
Da fenomenologia à psicanálise, nossa visão costumeira sobre as possibilidades de transcender o eu e acessar conhecimentos objetivos passa por uma revisão radical: por um lado, é questionado o programa de projeção que juridicializa a entrega de “intuições”; e por outro, é desvendado o mecanismo de repressão e de pressão cultural agindo na formação moral da consciência que “intui”. Em todo caso vêm à luz o problema da produção das superinterpretações que constrem as camadas de proteção das verdades necessárias. Seja através de um eu que transcende a si mesmo, um supereu, ou através de um sistema intersubjetivo de reconhecimento, ou ainda por meio de um acesso privilegiado à jurisdição eidética de uma região técnica, o erudito moderno já não está indefeso contra a imagem normativa eterna da ciência e da pós-metafísica.