Livro: "Moldura de Lagartas"

SINOPSE:

Não escapa ao leitor que os poemas da primeira parte deste livro constituem, em sua maioria, textos cujo assunto é a poesia, desde a tentativa de definir ou de sugerir uma poética, ou seja, uma aproximação conceitual do que seria essa arte da palavra, até a expressão em ato de como a poesia se manifesta no próprio fazer do poema, isto é, em sua performatividade ou, na proposta cunhada por Luigi Pareysons, em sua formatividade. Textos que ilustram a primeira direção: “Da poesia e sua outra” (dedicado a Haroldo de Campos e a Carlos Drummond de Andrade) “Academicismo”, “Desejo”, “A poesia é”, “Cilada”, “A cidade desejante”. A direção da performatividade pode ser sentida nos textos seguintes: “Gênesis”, “Lagarta sendo”, “Enlagarça II”, “Como usar a língua”, “Perdida”, “Método I”, “Método II”, “Método III”, “Golpe fatal”, “Fricativa”. Esses poemas exemplificam em parte aquela orientação que se observa nas chamadas estéticas da construção que foram se desenvolvendo desde Kant e que, passando por Schiller, encontra as formulações mais ricas em Paul Valéry (Eupalinos), John Dewey (Art as Experience) e Luigi Pareyson (Estética). No caso dos poemas citados podemos verificar a ação da consciência operante, isto é, a realização artística como critério para si mesma; com outras palavras, a produção do texto que é linguagem e, ao mesmo tempo, a invenção de seu código regulador. Dizendo isso, posso dar a impressão de que a poeta trilha somente esse caminho da identificação da poesia com sua construção poemática. Tal não acontece nas quatro molduras seguintes, onde vamos encontrar o predomínio do discurso ecfrástico, o qual pode parecer muito original e próprio da contemporaneidade (pois agora se costuma indicar como o discurso poético que se vale da descrição do que se vê em obras de arte pictóricas), mas tem suas raízes na antiguidade. Chamo a atenção para este aspecto por me parecer o mais relevante quanto ao vinculo deste livro com a tradição. O termo “ékphrasis” (ou écfrasis) aparece na retórica grega, com os textos da primeira sofistica (séculos IV e V. a. C.), tendo perdurado até a segunda onda sofística. Designava uma descrição viva, uma representação realista das personagens e das coisas, como se o autor do discurso pretendesse que o ouvinte as palpasse com as mãos, as visse, desculpem-me a redundância, com os olhos. [Antonio Manoel dos Santos Silva]

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