O Acto é uma obra de Raquel De Amorim. Neste livro, Deméter, um advogado e professor, conceituado por sua excelência, perambula pelas ruas, plazas e parques de Madrid, Espanã, até cometer um crime que tentará argumentar por uma tese: uma traição é sempre uma traição, é um acordo quebrado, implícito ou explícito, como os seres humanos, foram traídos e traíram ao longo da vida. Este ato desenreda uma narrativa intricada que puxa atrás de si o leitor que sente o personagem; o quanto ele sofre transtornos excêntricos, ansiosos e estranhos, bombardeado por uma saúde debilitada, Deméter enfrenta um corpo a corpo, esgotado, exausto e adoentado. Sabe que está fragilmente enfermo e combate com altivez o máximo para rivalizar reciprocamente a voz de sua alma, sua capacidade poderosa e transformadora, sua aguda compreensão de vingança e perdão. E finalmente sua salvação através do sentimento de afeição, paixão e um grande desejo por Hera, “a escolhida”… engendra-se uma tragédia grega, uma imitação de ação completa que forma um todo, e chegam a ser aí tão plausível, que os infortúnios caem subitamente sobre o infeliz sonhador, jogando-o da felicidade para a tristeza e a miséria, a peça que não pode ser inventada na realidade por esse mesmo sonhador, ainda que ele seja um dramaturgo como Ésquilo, Sófocles e Eurípides. Nesse sofrimento de análise, que sempre ficam por muito tempo na memória e produzem raciocínios “apolíneos e dionisíacos”, de um lado a razão e o raciocínio lógico e por outro lado o caos e o apelo as emoções e instintos, causa forte impressão sobre um organismo assombrado e já transtornado do homem, que sonha estar em uma peça de teatro, ainda na vida do homem pré-socrático, no declínio do sofrimento e desespero, da ruína pessoal, que apropria-se do que é certo ou errado, o que deve fazer ou não… no próprio vir a ser da existência, possibilitando criar a vida artisticamente…. criar – ação, logo, agir é o grande ‘acto’ e a liberdade de cometê-lo. Nasce aqui a própria criação e recriação, ação e reação”. Ao deparar com elas, ele apertava fortemente ao seu destino, o lado que escolheu, sempre coberto, ‘pela filosofia dos grandes pensadores’, ele continua, serpenteando… o pensamento humano, o seu espírito, a sua criação, a expressão… força imensurável de onde originaram as dolorosas transformações da sua vida. E eis que o homem deve enfrentar a vida de frente, viver a natureza da realidade, entre mente e matéria, atributo e potência, por meio da reflexão do ser, ‘da alma humana e Deus’. Uma circunstância especial lhe chama atenção: desta feita o homem não deve praticar o mau com medo do inferno, no qual se baseia a ‘religião’, mas através do ‘arrependimento, do sofrimento que esse ato lhe causa’, e somente por isso não deve sair por aí a cometê-lo, jamais. “Somos bons e, isso é tudo, a bondade deve superar a maldade”. É uma daquelas grandes discussões às quais se atrelam ao ímpeto da própria realidade e abraça a vida, mas sacrifica a individualidade. É a recusa que faz a diferença nas escolhas, e as escolhas fazem a diferença na recusa. “Eu não recuso Deus, mas posso me livrar dos valores impostos, isso chamo de livre arbítrio. Ele transporta essas duas vertentes para a ‘bondade’ que esse mesmo homem nasceu, está dentro dele, dentro do seu próprio juízo de valor, preceitos morais e religiosos que amenizam a maldade que também está dentro dele e, de todos os homens. A consequência disso seria o fim, como se nada fosse o começo, como se tudo fosse caos e desordem, e que se não houvesse ordem, não teríamos a paz. Ser feliz é muito fácil, ao contrário de andar puxando cargas, o peso do arrependimento, do sofrimento, da desordem, do caos.