Livro: "O inscritor e o socius: a literatura “psicanalítica” no Brasil atual"

SINOPSE:

Ricardo Lísias escreveu um romance com o título de “Divórcio”. Prêmio Granta, escritor consagrado, passível de uma crítica forte, já que contemporâneo. Na sua tentativa de romance, consegue mostrar a idade do cinismo que vivemos, dos fluxos abstratos de capitais, do “capitalismo financeiro” e toda sua cultura refinada – ainda a psicanálise, ainda determinado cultivo do ego, ainda o pior do que as classes-médias podem apresentar. Numa época de golpes e austeridades financeiras mundo afora, o capitalismo é a única máquina social que se construiu como tal sobre os fluxos descodificados, substituindo os códigos intrínsecos por uma axiomática das quantidades abstratas em forma de moeda. Mostra “como ainda somos piedosos”, na leitura de Nietzsche feita por Guattari e Deleuze.
É a idade do cinismo, que vem acompanhada de uma estranha piedade, junto a um frenético “produzir por produzir”. Produzir para “jogar fora”, produzir para falar que você não presta (e a quem interessa esse “você”?), produzir para fazer auto-análise e ganhar dinheiro e status com isso. Esta é uma das modalidades do “teatro da crueldade” que Deleuze e Guattari colocam como o início da produção no socius, mas que na verdade o perpassa de ponta a ponta, potencializando-se com a difusão do princípio oligárquico. Sem a crueldade, sem o instinto de crueldade não se chega a grau tão elevado de sofisticação produtiva, de cinismo, da estranha piedade aprendida no culto ainda que velado a Zeus, ao deus barbudo, ao Panóptico – não importa. “Reúnem-se, retomam-se todas as crenças em nome da estrutura do inconsciente: somos ainda piedosos. Por toda parte o grande jogo do significante simbólico que se encarna nos significados do imaginário – Édipo como metáfora universal”. Os autores da França parafraseiam Marx ao afirmarem que o capitalismo só sobrevive na medida em que pode criticar a si próprio, em que a história universal passa a ser contingente, “singular, irônica, crítica”. “Codificar o desejo – e o medo, a angústia dos fluxos descodificados – é próprio do socius.

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