Livro: "O Melhor da Crônica"

SINOPSE:

“A crônica está para a literatura brasileira como o chorinho está para a nossa música. Tomada emprestada da França, no século XIX, aqui a crônica se desenvolveu, a ponto de poder ser considerado um gênero literário marcante brasileiro. A primeira comprovação dessa afirmação é que os maiores romancistas brasileiros, e os maiores poetas, forma cultores da crônica e, no conjunto de suas obras, ela representa um destaque. É o caso de Machado de Assis, de Olavo Bilac, de Carlos Drumond de Andrade. Mas é, sobretudo, o caso de um autor que, sem ter produzido nenhum romance, é, por opinião unânime, um dos maiores escritores da nossa literatura: Rubem Braga. Além disso, a crônica é um gênero literário que se caracteriza pelo bom humor, mesclado com o lirismo e alguma nostalgia, traços marcantes da alma brasileira. Além desse diferencial de brasilidade, por si só um bom argumento para que seja cultivada e perenizada, a crônica apresenta, na técnica da sua construção, características que lhe agregam importância como gênero literário, como, por exemplo, sua contemporaneidade enquanto satisfação de anseios do leitor moderno, que busca síntese, bom humor, informalidade e reflexão conjugados com certo descompromisso. Essa despretensão é que proporciona à crônica ser aceita sem ser percebida pelo leitor apressado do terceiro milênio e é exatamente o que lhe permite ser porta de entrada para a literatura, dos jovens aos leitores de terceira idade. Sem que tenha aspiração a ser considerada “gênero maior”, surpreende às vezes com pequenas obras-primas. É o que resume, com felicidade, Antonio Candido, quando afirma, sobre a crônica: na sua despretensão, humaniza; e esta humanização lhe permite, como compreensão sorrateira, recuperar com a outra mão uma certa profundidade de significado e um certo acabamento de forma, que de repente podem fazer dela uma inesperada embora discreta candidata à perfeição”.Já foi dito, como brincadeira, que crônica é tudo aquilo que não é romance, conto, poesia ou ensaio. […] A crônica, para ser Crônica, precisa ganhar foros estéticos e, para isso, deve prevalecer o poder de recriação da realidade sobre o de mera transcrição. Para obter esse resultado nada melhor do que seguir a lição de Bergson sobre a intuição: “a atenção que o espírito presta a si mesmo enquanto observa a matéria”. Uma notícia jornalística é a narração direta de um fato; o repórter não deve se meter na matéria. Nesse sentido, tanto melhora a notícia quanto mais ela se aproximar de uma excelente foto do acontecimento. Já a crônica é o fato visto pelo cronista. É a pintura do acontecimento. Esta literatura que “tira significado do que parece insignificante”, como percebeu Alfredo Pujol, é, mais do que qualquer outro gênero literário, “obra do meio e do momento”, como exigia Taine para toda obra de criação. A crônica tem a sua técnica e ela pode se resumir em ser simples, breve e ter graça. Acrescenta-se a ironia, diante da constatação do determinismo e do absurdo das coisas; sorrir, quando o protesto é inútil. Este gênero literário, que simplificou a literatura, tornou-se acessível, aproximando-a das pessoas, é, paradoxalmente, desdenhado na universidade brasileira, como “gênero menor”. O desaparecimento dos grandes cronistas contemporâneos – Rubem Braga, Carlos Drumond de Andrade, Paulo Mendes Campos – não foi sucedido por novos valores. Os jornais não buscam substitutos e esta a tragédia da crônica: ela só toma vida quando publicada. Se o jornal não a recebe, ela nem chega a nascer. Tao preocupada com o meio ambiente e a sobrevivência das espécies, a geração brasileira do início do século XXI não percebe isto: que depende dela a sobrevivência do gênero literário que expressa a nossa forma de viver e de falar – e o sentimento nosso”. – Lindolfo Paoliello

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