SINOPSE:
Muitos dizem que se tivessem a sabedoria que tem hoje não teriam feitos tantos erros e besteiras como quando jovens. Concordo com elas.Concordo que não teria feito várias coisas erradas. Como uma viagem dessas para a Austrália.Ela não tinha como dar certo e aí estava todo o charme dela para aquele espírito aventureiro que você só tem aos vinte anos. Eu era apenas um menino descobrindo o mundo.E sim, ela não deu certo e é por isso que tenho tantas recordações maravilhosas. Se a viagem para a Austrália tivesse sido como todas as outras planejadas e que deram certo ela hoje não seria nada mais que fotos de festas e cartões postais no Facebook.Como todo mundo.Não, na viagem para a Austrália eu fui humilhado, escorraçado, vivi em situações extremamente degradantes, em trabalhos degradantes, com pouquíssimo dinheiro, mas não me lembro de algum momento em que fui tão feliz. Acima de tudo, a viagem para a Austrália foi a minha viagem e ninguém nunca terá um dia uma viagem parecida. Acredito que são nesses momentos onde não nos levamos a sério, onde nos fazemos idiotas, onde vamos contra todos que nos dizem “não faça isso que isso vai dar errado”, “procure a coisa certa”, “faça como todo mundo”, “procure estabilidade”, “olha a minha foto na Disney”, são nesses momentos em que realmente reside, desculpe a parte piegas, a verdadeira felicidade. Hoje comemoro fatos banais da minha vida em restaurantes frescos que não chegam aos pés da minha satisfação ao comemorar um novo emprego (que muito provavelmente eu iria perdê-lo na semana seguinte) na Austrália comendo no Subway da semana (sim, Subway era o meu luxo!). A felicidade de gastar dois ou três dólares que me sobravam durante a semana no fliperama na volta de casa. Eletrodomésticos caros, TVs do tamanho do meu apartamento não me trazem a felicidade que tive ao achar uma TV velha no lixo e levar para o quarto que dividia com o Jonas.Era para ser apenas mais uma viagem de intercâmbio. Acreditava que a vida seria fácil, mas vivenciei todas as dificuldade e agruras de um imigrante em um país estranho. Lavei carros sob os gritos da máfia eslovena, vi sangue jorrar de minhas mãos em uma cozinha de beira de esquina, descarreguei sofás em armazéns, lavei pratos, caminhei quilômetros com mais de 10 kgs de panfletos nas costas, fiz entregas, carreguei placas de gesso com brutamontes ensandecidos, descarregei carretas e carretas, me desesperei devido ao aluguel e até pulei de janelas à la Seu Madruga para fugir do pagamento… Tudo em um espaço de seis meses. As presepadas, que suplantaram em muito minhas pequenas vitórias, são narradas com um humor ácido próprio, com o desespero de um jovem de 21 anos, sozinho, a 13 horas de distância de qualquer conhecido e que se apegava às palavras para esquecer os problemas de uma realidade que lhe levou a viver, literalmente, um dia de cada vez. Apanhei, sofri, quase fui preso algumas vezes, curti, ri, e, acima de tudo, tive uma experiência de vida inesquecível
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