Livro: "O trabalho em movimento: Estudos Críticos de Direito do Trabalho"

Estes estudos foram escritos e reescritos ao longo dos últimos dez ou doze anos. Talvez um pouco mais. Parte dos textos, elaborei quando cursava o Programa de Mestrado em Relações Sociais na PUC de São Paulo; parte, quando fiz o Programa de Doutoramento na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Outros foram escritos para compor obras coletivas; alguns jamais publiquei. E houve aqueles que escrevi especialmente para este livro. Faziam parte de um antigo projeto, de reunir meus escritos aleatórios para externar um pouco das coisas que colhi nesses anos de estudo. Vários fatores não permitiram que o projeto se concluísse. Nesse período, alegrias, decepções, glórias e tristezas se alternaram, como ocorre na vida de todos nós.
Olhando pelo retrovisor, acho que amadureci o suficiente para considerá-lo concluído. Arrisco dizer que foi bom ter demorado tanto a terminar o trabalho, pois é natural que nossas percepções mudem com o passar dos anos. Os leitores atentos vão perceber traços pueris em algumas escritas, mas procurei preservar o máximo das minhas percepções originais, justamente para ser fiel ao sentimento expresso no momento em que escrevi. Haverá, portanto, ao longo da obra, não apenas um Carlos Eduardo, mas vários deles.
A esse propósito, outro alerta importante: o Brasil de hoje é muito diferente daquele Brasil de quando este trabalho começou. A exemplo do escriba, são vários Brasis que percorrem o lapso em que foram produzidos os escritos que ora compartilho. Em minha ingenuidade, cheguei um dia a acreditar que tudo era pra sempre, sem saber que o “pra sempre”, sempre acaba, nos dizeres de Renato Russo. O país que vislumbrava uma esperança de romper o dogma histórico da desigualdade aprofundou o discurso do ódio e da irracionalidade. No momento em que escrevo esta apresentação, o pouco do que se construiu ao longo de décadas vai se esvaindo pelo ralo da intolerância, da ignorância, do preconceito e da estupidez.
É como se tivéssemos voltado às origens. Ou como se nunca tivéssemos saído daquele estado original, marcado pela aristocracia política, pelo escravismo e pela exclusão. Talvez nunca tenhamos mudado. Talvez o que tivemos foi apenas uma generosa “trégua” do destino, como no romance de Mario Benedetti. E que como aquela, foi efêmera, nos dando a ilusão de que poderíamos ser melhores do que éramos.
Esse percurso exigiu a revisão criteriosa dos textos antes escritos, de modo a ajustá-los à nova realidade. Outros foram modificados sensivelmente e, como dito, produzi alguns especialmente para integrar essa coletânea. Procurei apresentar um trabalho organizado, de certa forma, de maneira cronológica, para permitir a eventuais leitores uma compreensão global dos caminhos trilhados pelo Direito do Trabalho no mundo e, especialmente, no Brasil.
Espero, de forma sincera, que possa contribuir para a formação de um espírito crítico, além de compartilhar um pouco do que andei lendo nessa década e meia.
Sem nominar, para não causar injustiças, agradeço a todas e todos os que cruzaram meu caminho nestes anos. Para o bem ou para o mal, todos ajudaram um pouco naquilo que ora se expressa.