Livro: "Os Dez Mandamentos: Manual para a vida cristã"

SINOPSE:

Este livro que você tem em mãos é um excelente testemunho do legado que teólogos reformados têm deixado para o estudo da ética cristã ao longo dos séculos. Discursar sobre os Dez Mandamentos como síntese da ética cristã tem sido uma prática cristã presente desde a Patrística, sendo expandida pela Idade Média; mas foi na Reforma, principalmente entre os Reformados, que essa tradição se tornou mais expandida. Nos catecismos reformados compostos nos séculos XVI e XVII existe uma ampla discussão sobre os Dez Mandamentos, desenvolvendo gradativamente a compreensão ética desse conjunto de regras.
De maneira mais sintética no Catecismo de Heidelberg (1563), mas de forma mais ampla no Catecismo Maior de Westminster (1647), os Dez Mandamentos são vistos não apenas em seus aspectos negativos ou proibitivos (“não terás”, “não farás”, “não dirás”, etc.), mas também em seus aspectos positivos (tudo o que cada mandamento exige). Por isso é que, em suas perguntas e respostas sobre a Lei de Deus, o Catecismo Maior de Westminster faz uma distinção entre o que o mandamento proíbe e o que ele exige para que fique claro para o leitor que a excelência da ética cristã não está em não fazer com o próximo o que não gostamos que se faça conosco (presente em outros sistemas éticos antigos), mas em fazer com o próximo o que queremos que façam conosco (Mt 7.12). Essa regra áurea é anunciada pelo Senhor Jesus Cristo e a Fé Reformada tem dado destaque a esse aspecto positivo da lei.
É muito triste o fato de que muitos evangélicos têm desprezado o lugar precioso que os Dez Mandamentos ocupam na ética cristã. Não só a história, mas o próprio texto sagrado dá destaque ao Decálogo (“Dez Palavras”) como o cerne da ética prescrita por Deus. Nos dois lugares do cânon em que os Dez Mandamentos são proferidos (Êxodo 20 e Deuteronômio 5), eles estão no princípio do restante da legislação dada a Israel. Em outras palavras, eles funcionam como o espírito por trás dos demais mandamentos. Tanto o Antigo (Jr 7.9-10; Os 4.2) quanto o Novo Testamento (Mt 19.17-19; Rm 13.9; 1Tm 1.9-10) repetem vários dos Dez Mandamentos como testemunho de sua importância enquanto resumo da Lei. Além disso, o registro do Decálogo em tábuas de pedra é um símbolo de uma Lei que é perene e não muda. Essa perpetuidade da Lei ajuda-nos a entender a história bíblica como um todo: as repetidas transgressões do povo, a necessidade de alguém que nos resgate da maldição da Lei, e as exortações contínuas a uma vida santa.
Esses três movimentos da história nos são apresentados dentro de uma estrutura pactual na exposição do Dr. Douma sobre o Prólogo dos Dez Mandamentos. A outorga da Lei no Sinai é vista como o código de uma aliança (Dt 5.2-4), onde Deus é o centro da aliança e o seu caráter é a medida de moralidade. Esse código é dado, primeiramente, porque Deus é Senhor. Isto é, a grandeza e santidade do Criador são suficientes para nos ordenar a viver santamente (Ex 19; Hb 12). O soberano Senhor é quem institui o pacto e as condições desse pacto. Não somos nós que fazemos Deus o Senhor de nossa vida; é ele quem se apresenta como Senhor e nos faz seu povo. Uma visão da glória de Deus é pré-requisito para uma reposta de temor e obediência (crer e observar). Mas, infelizmente, a história do povo Judeu é uma história de transgressão dessa Lei.
Por isso, em segundo lugar, o Decálogo também é apresentado ao povo porque Deus é Redentor. Observe como o Prólogo dos Dez Mandamentos recorda a libertação do povo de Deus do Egito, antes mesmo de apresentar a legislação propriamente dita. A iniciativa redentora de Deus precede a sua ação legislativa. O Êxodo do Egito é o evangelho colocado no cabeçalho da Lei, assim como as epístolas paulinas primeiro apresentam o que Deus fez em Cristo antes de nos exortar a um comportamento condizente no poder do Espírito.
Heber Carlos de Campos Jr.

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