Livro: "Para Além da Liberdade: Viagem aos Estados Unidos"

O Boeing 707 da PanAm, maior empresa aérea do mundo, decolou às 22 horas de Viracopos (Campinas) em direção aos Estados Unidos. A bordo iam diversos empresários e algumas famílias. Pelo que soube todos eram industriais no Brasil e estavam sempre importando ou exportando equipamentos e peças norte-americanas. Eu era um dos três jornalistas a bordo. Era o dia 8 de junho de 1969. Poderíamos participar direta ou indiretamente das comemorações do lançamento do homem à lua, dentro do programa idealizado por John Kennedy em 1961, quando disse que ainda nesta década os americanos iriam colocar um astronauta norte-americano andando ou passeando na lua. Este programa fazia parte da corrida aeroespacial entre Estados Unidos e União Soviética. Numa memorável jogada de marketing, os russos já tinham colocado um satélite girando em torno da Terra em 1957, consagrando em todo mundo o astronauta Iury Gagarin. Portanto, era preciso superar os russos. E para tanto bastava conquistar o satélite, deixando lá a bandeira dos Estados Unidos.…Durante aproximadamente cinco horas percorremos quatro vilas do bairro do Bronx. Magaly tinha em mãos um livro sobre a grande metrópole. Realmente, a pobreza saltava aos olhos. Ela me disse que 75 por cento dos habitantes daquela área da cidade eram pobres e negros. E o restante imigrantes pobres. Os negros olhavam para nós com ferocidade. “No Brasil –disse ela – existe a segregação, mas não a discriminação como aqui. Há lugares em os negros não podem entrar, como cinema, ônibus, escolas, hotéis, restaurantes. Em Manhattan, os habitantes brancos fazem acordos. Cada morador que quiser se mudar para um bairro, mesmo comprando a propriedade, tem que apresentar o interessado para os antigos moradores brancos. Eles acham que os negros desvalorizam os bairros e as residências.”