SINOPSE:
APRESENTAÇÃO Eu gosto de gente doente. Gente que derrama seu eu por todos os cantos da vida e se catam em pedacinhos, por vezes perdem esses cacos no andar do ardor de viver, adoecem e não se curam nunca. Gosto de pessoas de pathos, de patologia, de paixão. Não escrevo para gente curada que tem equilíbrio emocional, controlada, contida, serena, boazinha, harmônica, pacional na mesma medida que racional, ponderada, sensata, justa, vegetariana, vegana e modas afins, ecológica, politicamente correta, educada, que não fala palavrão, ama todo mundo e quer salvar o mundo. Também não escrevo para pessoas que abraçam árvores, que praticam religiões diet que não engordam o espírito e nem causam a experiência moral, não escrevo igualmente para quem pensa em resolver o mundo com jantares ‘cabecinhas’, agenda de poesia e sessão cinema iraniano em cineteatro alternativo; não escrevo também para quem acha que tudo é relativo e que dinheiro não tem valor. Eu escrevo para pessoas de verdade, que desejam apenas aproveitar a festa enquanto é tempo, que sabem da urgência de viver e que sobretudo não confundem sua pobre noção de moral com a minha. Escrevo para gente real! Este livro reúne 22 contos os quais escrevi em 2005 e 2006, nos quais a temática é sempre o pathos das relações e as mais variadas formas de viver um amor, sem modelos estereotipados, apenas relações que tinham a honestidade de serem como devem ser toda relação: não uma vontade de perfeição, mas a adaptação à imperfeição de amar um ser imperfeito. A constatação sempre antes e contra a invenção. Só há um autor brasileiro que fez este trabalho antes, Nelson Rodrigues, que entendeu que nós estávamos caminhando para o insuportável do amor: a interpretação virtuosa de quem não somos. Há casais que vivem décadas neste teatro tragicômico, onde ambos são atores de si e vivem suas taras, ânsias e frustrações no mais absoluto silêncio dos culpados. Dividem por décadas a mesma cama e morrem íntimos estranhos, que só uma prostituta ou um(a) amante foi capaz de fazer aquele corpo sem alma resplandecer uma vez na vida. O homem não se reinventa como querem nos fazer crer toda nossa filosofia de RH e MBA, a mudança humana é tão lenta, que as verdadeiras sequer nos damos conta. A mulher é o alvo dessa obra, porque ela consegue encarnar infinitamente melhor que o homem a dor, a agonia e alegria de viver. Não confesse nada, leia e veja aqui quantas relações assim, você leitor, já entrou e é incofessável porque até agora você a julgava como anormal. Amar é uma anormalidade, que de tão rotineira virou normal. Quem você ama detém sua liberdade até do pensar, porta a palavra que pode te destruir e a capacidade de te fazer voar. Façam a seguinte figura: você com uma coleira, por vezes sendo machucado, humilhado, subjugado e no minuto voando com as águias, isso é normal? Isso é amor! Ou seja, há mais anormalidade na nossa vida do que se pode imaginar, então leia estes contos e julguem se ainda assim tiverem a capacidade soberba da hipocrisia da memória seletiva, que nos faz recitos doces e fora da cadeia de violência sobre nossos amores. Nada é mais violento que uma paixão, mais devastador do psique que o amor e não vivemos sem, ou vivemos mal, logo o precisamos como algo inerente, precisamos da doença. Aceitem que um certo grau de desordem é necessário e quem diz que não o tem é porque já apodreceu de tal maneira que viu a doença, dela foi incapaz e optou pelo fingimento por hipocrisia ou desistência. Evite pessoas curadas, eu não entro num elevador com uma pessoa curada, são pessoas que fingem a dor e são monstruosas de perto. O surto é a cura, a fingimento é a manipulação da patologia, gente assim é perigosa, por essas e outras acho mais santa a adúltera promíscua que a moralista de igreja. Gente doente é o que mais se aproxima daquilo que se pode chamar de ser humano! Boa leitura. Edu França
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