Livro: "Pedra Bruta"

A Mi sempre soube que era furada crescer. Brincou de boneca até os 14, e apesar de ótima aluna, não era nerd nem deslocada, estava sempre cercada de amigos. Foi líder de turma por vezes e também se sobressaía nos esportes e gincanas. Genética boa do pai triatleta?Apesar desse carisma, agradava-lhe ficar sozinha, a observar o céu com as formas das nuvens que sua mente fértil quisesse concretizar. Além dos seus desenhos, escrevia diários e neles, seus amores platônicos e suas poesias não correspondidas; crescendo com a influência inconveniente de comédias românticas e seus enredos de “mocinha patinho feio” que eram felizes no final.
No entanto, a realidade nem sempre é bonita e tem música pop na trama. Após anos com quem achou ser seu grande amor, viu o mesmo proferir um discurso robótico, sem um pingo de sentimento, que preferia terminar o relacionamento por meio da sua psicóloga. Covarde?Chorou por horas, e mesmo diagnosticada com depressão, sentiu-se bem apenas com o Thor, seu filho de quatro patas. Surpreendentemente, um impulso inundou seu ser: “Eu não vou chorar mais uma lágrima. E eu posso e vou fazer tudo que eu quiser sozinha. Não preciso de ninguém” E assim ela o cumpriu. Este era apenas um entre incontáveis pensamentos que se passavam em sua mente absurdamente acelerada, porém criativa.
Aquela que fisicamente ao primeiro olhar é fácil notar a salsada que a compunha: Um e setenta e poucos, cabelos longos, olhos espichados, pele morena em um quadril alegoricamente brasileiro. Analisando mais a fundo, percebe-se que nações e outros solos a caracterizam em seu jeito de ser. Voz alta característica do povo que fala com as mãos, traduzida num dialeto frenético, atropelado, esquecido e cômico. Resiliência e rigor da parte oriental expressos em auto cobranças e ânsias desproporcionais. E notavelmente, a intrínseca alegria emitida em arlequinadas singulares expressas em sua curva mais notável: o sorriso.
E se pudéssemos conhecer um pouquinho do que se passou dentro desse cérebro? Pensaríamos diferente? Seríamos mais empáticos com ela? Das aventuras impulsivas aos dramas de relacionamento, uma brecha se abre para conhecê-la em sua forma sem cortes ou censura, sua versão nada lapidada e pura: Pedra Bruta.