SINOPSE:
Por que vio as ruas de Lisboa com tão poucos ramos nas tavernas e o vinho tão caro, e ella não podia viver sem elle Eu so quero prantear Este mal que a muitos toca; Que estou ja como minhoca Que puzerão a seccar. Triste desaventurada, Que tão alta está a canada Pera mi como as estrellas; Oh! coitadas das guelas! Oh! guelas da coitada! Triste desdentada escura, Quem me trouxe a taes mazelas! Oh! gengivas e arnellas, Deitae babas de seccura; Carpi-vos, beiços coitados, Que ja lá vão meus toucados, E a cinta e a fraldilha; Hontem bebi a mantilha, Que me custou dous cruzados. Oh! Rua de San Gião, Assi ‘stás da sorte mesma Como altares de quaresma E as malvas no verão. Quem levou teus trinta ramos E o meu mana bebamos, Isto a cada bocadinho? Ó vinho mano, meu vinho, Que ma ora te gastamos. Ó travessa zanguizarra De Mata-porcos escura, Como estás de ma ventura, Sem ramos de barra a barra. Porque tens ha tantos dias As tuas pipas vazias, Os toneis postos em pé? Ou te tornaste Guiné Ou o barco das enguias. Tríste quem não cega em ver Nas carnicerias velhas Muitas sardinhas nas grelhas; Mas o demo ha de beber. E agora que estão erguidas As coitadas doloridas Das pipas limpas da borra, Achegou-lhe a paz com porra De crecerem as medidas. Ó Rua da Ferraria, Onde as portas erão mayas, Como estás cheia de guaias, Com tanta louça vazia! Ja m’a mim aconteceo Na manhan que Deos naceo, Á hora do nacimento, Beber alli hum de cento, Que nunca mais pareceo. Rua de Cata-que-farás, Que farei e que farás! Quando vos vi taes, chorei, E tornei-me por detras. Que foi do vosso bom vinho, E tanto ramo de pinho, Laranja, papel e cana, Onde bebemos Joanna E eu cento e hum cinquinho. Ó tavernas da Ribeira, Não vos verá a vós ninguem Mosquitos, o verão que vem, Porque sereis areeira. Triste, que será de mi! Que ma ora vos eu vi! Que ma ora me vós vistes! Que ma ora me paristes, Mãe da filha do ruim! Quem vio nunca toda Alfama Com quatro ramos cagados, Os tornos todos quebrados! Ó bicos da minha mama! Bem alli ó Sancto Esprito Ia eu sempre dar no fito N’hum vinho claro rosete. Oh! meu bem doce palhete, Quem pudera dar hum grito! Ó triste Rua dos Fornos, Que foi da vossa verdura! Agora rua d’amargura Vos fez a paixão dos tornos. Quando eu, rua, per vós vou, Todolos traques que dou São suspiros de saudade; Pera vós ventosidade Naci toda como estou. Fui-me ó Poço do chão, Fui-me á praça dos canos; Carpi-vos, manas e manos, Que a dezaseis o dão. Ó velhas amarguradas, Que antre tres sete canadas Sohiamos de beber, Agora, tristes! remoer Sete raivas apertadas. Ó rua da Mouraria, Quem vos fez matar a sêde Pela lei de Mafamede Com a triste d’agua fria? Ó bebedores irmãos, Que nos presta ser christãos, Pois nos Deos tirou o vinho? Ó anno triste cainho, Porque nos fazes pagãos? Os braços trago cansados De carpir estas queixadas, As orelhas engelhadas De me ouvir tantos brados. Quero-m’ir ás taverneiras, Taverneiros, medideiras, Que me dem hua canada, Sôbre meu rosto fiada, A pagar la polas eiras. (Pede fiado á Biscaïnha.) Ó Senhora Biscaïnha, Fiae-me canada e meia, Ou me dae hua candeia, Que se vai esta alma minha. Acudi-me dolorida, Que trago a madre cahida, E çarra-se-me o gorgomilo: Emquanto posso engoli-lo, Soccorei-me minha vida. Biscainha Não dou eu vinho fiado, Ide vós embora, amiga. Quereis ora que vos diga? Não tendes isso aviado. Dizem lá que não he tempo De pousar o cu ao vento. Sangrade-vos, Maria Parda; Agora tem vez a Guarda E a raia no avento. (A João Cavalleiro, Castelhano
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