Livro: "SÃO AGOSTINHO A CONFISSÕES"

Nossa época, que é pouco teóloga, não mede a magnitude da obra de Santo Agostinho. Ela se importa? A soma das noções que um solteiro médio possui sobre o maior dos Padres da Igreja, para colocar as coisas no seu melhor, é reduzida, creio eu, a isto: uma imagem, a pintura de Ary Scheffer; dois títulos de livros, um do mestre, as Confissões, o outro de um discípulo distante, o Agostinho; talvez até a famosa palavra: “Nondum amabam et amare amabam.” Isso é tudo e, convenhamos, é pouco.
Pois a cabeça de Agostinho era o lugar, não o único, mas privilegiado, uma das principais operações da mente humana. É a ele, mais do que a qualquer outro, que se incumbe realizar a síntese do pensamento antigo e do pensamento cristão, que viveu, durante muitos séculos, a civilização ocidental. Por meio dele, nele a cultura greco-latina aliou-se à Bíblia, a sabedoria plato nicienne dá a mão à “loucura da Cruz”, está se criando uma nova tradição que levará, nutrirá e fecundará os mais belos gênios da humanidade.
De um ponto de vista especificamente cristão, ele foi o médico incomparável que a Igreja colocou sobre seus altares, um dos mais ativos trabalhadores no progresso dos dogmas, o teórico da queda, da reparação, da graça. Disputador nunca se cansa, ao mesmo tempo que rejeita maniqueus, donatistas, pelagianos, arianos, esclarece e define a doutrina e, como o rigor da concepção não dispensa o do vocabulário, acaba dando a teologia sua linguagem.
Não esperamos encontrar aqui uma análise, mesmo abreviada, desta imensa obra. Os curiosos sobre a especulação devem consultar os livros especiais. Lá eles verão, além disso, a extraordinária influência exercida pelo pensamento de Agostinho sobre os desenvolvimentos subsequentes do pensamento religioso. Alguns episódios, como a Reforma e o Jansenismo, foram importantes demais para não serem conhecidos pelas “pessoas honestas” comuns.