SINOPSE:
As políticas de moradia para as populações mais pobres no Brasil funcionam, há décadas, não somente como resposta dos poderes públicos para uma demanda social, mas principalmente como recurso para organizar urbanisticamente as cidades e enquadrar seus beneficiários em um modelo normativo. Geralmente, tal modelo é acompanhado pela proposta de uma nova conduta, na qual seus futuros habitantes – antes moradores de favelas, periferias ou cortiços – devem reconhecer a ilegitimidade das suas formas de organização espacial e social e de suas escolhas morais, e optar, junto á nova moradia, por um novo estilo de vida. Essa lógica esteve presente, por exemplo, em projetos de habitação popular no Rio de Janeiro, como os Parques Proletários (1940), a Cruzada São Sebastião (1950) e os conjuntos habitacionais da Cohab/Chisam (1960/70). Contudo o fato de sugerir uma normatividade e até de criar estratégias garantidoras da sua aplicação não significou sua implementação: no geral, essas pessoas absorveram elementos da nova habitação, os quais poderiam agregar às suas vidas, mas não deixaram de (re)construir um cotidiano que incluísse formas de sociabilidade e de organização, como aquelas presentes no antigo bairro. Talvez por isso todos esses empreendimentos tenham sido posteriormente classificados pejorativamente como favelas, seja pelos poderes públicos ou pelos demais citadinos. Neste livro, o autor analisa como esses elementos – uma proposta de gestão por parte do Estado e a construção de um projeto pessoal a partir da nova casa pelos moradores – estão presentes nas políticas de habitação de interesse social promovidas na última década por dois programas federais na cidade do Rio de Janeiro: o “Minha Casa Minha Vida” e o “Programa de Aceleração do Crescimento”, que em comum utilizaram o formato condomínio para realocar a grande quantidade de “favelados”, os quais precisaram deixar suas casas por conta das políticas de remoção em voga. Em torno do formato condomínio (reconhecido como um modelo de morar das classes mais abastadas) e suas regras de convivência, o autor identificou, a partir do trabalho de campo etnográfico, toda uma trama social, permitindo reconhecer tanto o modelo disciplinar proposto pelo Estado quanto as estratégias de reconstrução do cotidiano em um espaço de moradia com outro significado simbólico na dinâmica da cidade.
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