Livro: "Te mando flores da Grécia: A autobiografia da jornalista que transformou uma tragédia pessoal em uma volta ao mundo inspiradora"

SINOPSE:

Prefácio “Te mando flores da Grécia” requer um prefácio de advertência: o humor não será usado como camuflagem em nenhuma linha deste livro. Nenhuma palavra sequer. Em vez do recurso inventado com maestria por Jane Austen e usado com sagacidade por mulheres em autobiografias e ficções que chegaram às listas de “mais vendidos”, Paula Brukmüller respira fundo (se for de frente ao mar, melhor ainda) e desnuda-se, completa e inteiramente, bem em frente de quem lê. Paula usa a tragédia pessoal de sucessivos abortos, tentativas para engravidar, do fim de um casamento e da mudança para uma cidade que não era a que nasceu, como uma máquina retroescavadora. Enquanto completa uma volta ao mundo, sozinha e com uma mochila nas costas, busca quem quer ser, mas principalmente puxa de si mesma prazeres perdidos da própria feminilidade, e revela-se hedonista, devota, sensual, reprimida, egoísta, amiga. O começo desta jornada é mesmo “um milagre do inconsciente”. A conversa com o próprio pai na Capadócia é uma ternura. O assediador na Grécia é insuportável. O amante 10 anos mais jovem é uma delícia. As bebedeiras com duas amigas na Tailândia são selvagens. Nesta jornada de 427 dias por 24 países, ela não usa filtros. O salto corajoso de um penhasco que desafia o azul do mar Mediterrâneo acaba com um bumbum vermelho, e muita vergonha. O banho “nude” em uma cachoeira secreta no deserto do Chile é libertador, mas testemunha-se também o árido trajeto até lá. Estão lado a lado: o chão de cerâmica vermelha imunda, o frio na Rússia, ratos, fome, extravagâncias, falta de dinheiro, vistos negados na Oceania, lágrimas, orgasmos, inseguranças, topless, extorsão na Tailândia, bebedeiras, ressacas, nomes esquecidos no Atacama, paisagens de tirar o fôlego. Ao encarar a própria vulnerabilidade de maneira tão orgânica, Paula corre o risco de ser admirada, odiada e, numa época de julgamentos tão líquidos quanto relacionamentos, condenada. Mas a decisão de expor a própria jornada não é um recurso literário. É expiação, fechamento de ciclo, processo de cura. Um caminho que acaba por desafiar, além das convenções, o conforto de quem lê. Por que, como avisado antes, a sensação de alívio trazida pela comédia, como fez Elizabeth Gilbert, por exemplo, é substituída por pressão. Paula bate de frente, mas só em si mesma, e transforma quem lê em voyeur de todo o processo. Este não é um livro triste e esta “jornada de herói” pode até ajudar a quem lê, mas este tampouco é um livro de autoajuda. “Te mando flores da Grécia” talvez caiba melhor entre os títulos de viagem. Afinal, o que está proposto aqui é mesmo uma jornada (e com dicas de como dar a volta ao mundo com pouco dinheiro, mas muita emoção). Eu, que tive a honra de encontrá-la em um dos trechos desta viagem e embarquei com ela ao revisar este livro, só tenho a agradecer pelo desconforto, pelas lágrimas, pelo gozo: “Te mando flores de Lisboa, Paula!”. Raquel Lima

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