SINOPSE:
A viagem como extensão da vida cultural é o principal tema deste livro. O prazer de viajar é sua razão de ser. Seu objetivo é compartilhar uma maneira ou estilo de viajar, dentro da modalidade “turismo cultural e literário”. Viajar é — ou deveria ser — coisa tão pessoal quanto o gosto por livros, filmes, quadros e comida, bem como sua motivação e sentido, numa época de excursões breves e facilitadas. Se a experiência humana pode ser tão rica quanto almejamos, com a viagem não é diferente. A mera diversão pode se transformar em caminho espiritual e razão de viver. A viagem que interessa ao autor leva à busca de beleza, diversidade e conhecimento, desvela mundos, educa, inspira e torna o viajante mais apto para compreender o próprio quintal. É essencial à realização humana. O contato com uma civilização mais antiga, avançada ou diversa da nossa tem o dom de quebrar preconceitos e abrir cabeças. Vida e trabalho podem se tornar mais prazerosos com as experiências que acumulamos, além das “milhas”. Há vidas paralelas para quem gosta de viajar e não quer ser uma maria vai com as outras. Há escolhas entre a influência das Agências de Turismo Online e a aceitação de que não há muito o que fazer para fugir do turismo massificado. O planeta ainda não é um parque temático, uma Disneylândia de 150 milhões de quilômetros quadrados. Não é preciso abrir mão da ajuda de aplicativos para planejar uma viagem ou de qualquer outra facilidade moderna nem abolir mapas de papel, cadernos de anotações e lápis. Nada nos impede de fazer o que podemos para não agravar os males do overtourism, e compreender os prejuízos sofridos pelas pessoas em cidades superlotadas, que desejam preservar a identidade local.Facilitado por companhias aéreas de baixo custo, oferta de crédito e aplicativos de aluguel de casas e apartamentos como Airbnb — companhia criada e sediada em São Francisco, nos Estados Unidos, avaliada em 31 bilhões de dólares, o turismo massificado enfrenta a rejeição popular e campanhas virulentas de ativistas em muitas cidades. Os casos mais conhecidos são Veneza (500 mil habitantes e 25 milhões de turistas) Amsterdã (820 mil habitantes e 20 milhões de turistas) e Barcelona (com uma população de 1,6 milhão de pessoas, recebe até 20 milhões de visitantes anualmente), onde, de cada 13 pessoas que estão nas ruas, em média, uma é moradora — as outras são turistas. As prefeituras dessas cidades tentam reduzir o número de voos de baixo custo, vetam a construção de hotéis no centro e cobram taxas de permanência do visitante, entre outras medidas para controlar a superlotação. Em Veneza, onde turistas faziam selfies durante as inundações de 2019, moradores lutam há anos para impedir a construção de novos hotéis e barrar a chegada de navios de cruzeiro. Amsterdã removeu um monumento com a frase “I Amsterdam” , em 2018, depois do incômodo causado por enormes filas para tirar selfies, e criou alertas digitais com pedido de respeito, além de multas por vandalismo.Eis algumas das queixas de moradores contra o turismo massivo: barulho, arruaça, falta de educação, sujeira, xixi na rua, desrespeito cultural, inflação no preço de bens e serviços, gentrificação. A palavra, incorporada na segunda metade do século passado ao inglês (gentrification), relaciona-se com a especulação imobiliária, mas tem tudo a ver com a indústria do turismo. Expressa a descaracterização de áreas populares e da vida local. Antigos moradores e suas famílias são expulsos de bairros inteiros por efeito da reconfiguração de imóveis, cujos aluguéis se tornam impagáveis, para receber mais turistas e lhes oferecer cafés, lojas de souvenires, restaurantes e outros serviços em moldes globalizados, distantes da tradição local. A fuga do lugar-comum, a busca pelo genuíno e a aproximação respeitosa da vida local são fundamentos da arte de viajar, uma arte que demanda preparo e maturação — e que tenderá a ser bem-vinda onde a praticarem.
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