Livro: "Um mapa da ideologia"
SINOPSE:
Deixemos que o próprio Zizek responda, mesmo que de forma indireta: “Um dos estratagemas fundamentais da ideologia é a referência a alguma evidência: ?Olhe, você pode ver por si mesmo como são as coisas!? ou ?Deixe os fatos falarem por si!? talvez constituam a arquiafirmação da ideologia, considerando-se justamente que os fatos nunca ?falam por si?, mas são sempre levados a falar por uma rede de mecanismos discursivos (…). A análise do discurso talvez mostre seu ponto mais forte ao responder precisamente a essa questão: quando um inglês racista diz que ?há paquistaneses demais nas nossas ruas!?, como, de que lugar, ele ?vê? isso; ou seja, como se estrutura seu espaço simbólico para que ele possa perceber como um excesso perturbador o fato de um paquistanês andar em uma rua de Londres? Em outras palavras, devemos ter em mente aqui o lema de Lacan de que ?no real não falta nada: toda percepção de uma falta ou de um excesso (?não há bastante disso?, ?há demais daquilo?) implica um universo simbólico?.”
Esse universo simbólico é inerente ao homem, constitutivo do homem, específico do homem. Regula, em última instância, a relação entre o imaginável e o inimaginável, o possível e o impossível. Nos permite agir, ou não agir, porque fornece as interpretações, conscientes ou não, de que necessitamos para tal ou qual decisão. Quando essa matriz ideológica fundamental se torna invisível, a ideologia não acabou. Ao contrário, experimentou seu mais completo triunfo.
Depois de reconstruir o desenvolvimento do conceito de ideologia na moderna ciência social e ressaltar suas múltiplas faces, Zizek passa a palavra a artigos já clássicos ? os de Lacan e Althusser ?, a um surpreendente conjunto de textos de Adorno, inéditos até 1993, e a uma cuidadosa seleção de autores, contemporâneos. Terry Eagleton, Peter Dews e Seyla Benhabib avaliam as contribuições decisivas da Escola de Frankfurt e de Lukács. Michel Pêcheux nos revela uma tradição diferente, a dos pós-estruturalistas franceses. Segue-se o famoso debate sobre a “tese da ideologia dominante”, no qual Nicholas Abercrombie, Stephen Hill, Bryan Turner e Göran Therborn trabalham na interseção de temas gramscianos e althusserianos. Pierre Bourdieu mostra seu distanciamento dessa tradição numa entrevista com Eagleton, enquanto Richard Rorty, refletindo sobre o feminismo, imagina outras possibilidades de transformação social. Michèle Barret relê Gramsci, Laclau e Mouffe, e Fredric Jameson oferece uma exposição magistral sobre a ideologia no capitalismo tardio. O volume termina com mais um ensaio notável do próprio Zizek, que ressalta e compara as sutilezas das análises clássicas da forma-mercadoria, por Marx, e do sonho, por Freud e Lacan.
Seja pela qualidade de cada contribuição, seja pelo caráter abrangente que a coletânea adquire, “Um mapa da ideologia” é um livro único, surpreendente, desconcertante, que reúne o que há de melhor na ciência social contemporânea.
César Benjamin
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