Livro: "Van Voguie: Uma Parceria Improvável"

—Veja bem, camarada. Eu sei… sei que devo minha vida a sua intervenção mais que oportuna. Contudo, eu sempre agi sozinho. E sendo honesto como jamais fui: seus interesses sexuais não me deixam confortável. Apreciaria muito se…—Se eu sumisse? Van levou a mão até uma de suas bolsas na cintura. Ficou a lhe medir com um dos pés batendo de leve no piso numa pose sensual e mesmo assim ameaçadora. Preferia Rakal retrucando numa grosseria contida. Mas palavras medidas e pesadas para soarem aprazíveis saindo de sua boca eram dolorosas.Rakal tomou coragem respirando firme diante tal gesto. —Sim. Precisamos deixar isso bem claro. Eu sou homem, você não é. É um grande guerreiro, e realmente lhe respeito muito… mas sabe do que estou falando, sabe mesmo, e não posso ficar ao lado de alguém assim. Por favor, saia da minha vida!Van Moda gelou com aquelas palavras. Sempre lhe proferiram palavras desrespeitosas. Sempre escutou risos zombadores ao passar. Ou ao olhar de lado ver risos que rapidamente se escondiam. Captava rostos se voltando para outro lado ocultando palavras. Mas se acostumou a tudo isso. É preciso se acostumar. Mas o que escutou ali de forma tão pura, tão direta…Rakal abriu caminho ao herói que passou por ele numa quase corrida. O viu saltar em sua moto, uma bela Harley vermelha, e sumir acelerando, logo dobrando a esquina. Restou apenas o perfume suave. Foi então que Rakal discerniu que esse homem possuí a fama de detetive implacável. Ele devia ter lhe estudado e descoberto seu interesse genuíno por perfumes e essências herdados de sua mãe.