Livro: "Vitórias II : Caminhos na Neblina"

O trabalho consiste numa antologia narrativa. O autor, ao produzir suas narrações, além de suas próprias vivências, baseou-se em temas e elementos presentes na estética gótica vitoriana, no fantástico, na ficção científica e por vezes no surrealismo.O cenário petropolitano (montanhosa cidade de Petrópolis na Região Serrana do Estado rio de Janeiro), suas gentes, hábitos, atavismos, crenças, estereótipos e valores transpiram em suas narrações, algumas, inclusive de índole poética. Fruto do contato direto com a atmosfera, tipologia psicológica, insciente coletivo, afetos e padrões do mundo petropolitano. No decorrer de um longo período de intermitentes gestações literárias, o autor procurou abstrair, sublimar e refletir suas experiências em imagens e narrativas curtas que envolvessem paradoxos acerca do terror e do medo, o risco, o absurdo, o familiar e o não familiar, o elemento desconcertante, a ameaça, o excitante, a alegoria e também sátira gótica, próprios do subgênero fantástico. Conciliou, com isso, o estranho ao humano. Trabalhou as contradições dos ambientes em que as narrativas se desenvolveriam, indo do local ao universal. Passou por temáticas do caos e do desequilíbrio, com intenção evidentemente crítica. Ao corporificar vícios, atavismos e mentalidade, o autor aproxima alegoricamente a sátira e fantástico. Sua intenção, com isso, é amplificar sobremaneira aspectos que, caso fossem abordados e descritos de forma mais realística e documental, não teriam tanta força. Destes relatos, ora pequenos ora extensos, participariam elementos da história, da vida social e do mundo petropolitanos. Figuram nestas narrações alguns arquétipos transformadores, com sentido de pioneirismo, autonomia e identidade, e outros feéricos, esdrúxulos e inusitados.A obra tem o intuito de provocar estranhamento e desconforto no leitor, o levando a identificar o familiar no estranho e, mormente, promover-lhe excitação a partir de sentidos como identidade e autenticidade (vitais no contexto) que o levaria a perceber suas ações no mundo, sua condição e qualidade enquanto indivíduo e as possíveis “maldições” por detrás dos estagnantes e limitantes padrões aos quais se prende e com os quais se confunde.
O título “Vitórias” faz alusão às carruagens vitorianas do Segundo Império do Brasil, até bem pouco tempo colocadas fora de circulação, sugerindo, enquanto micro enredo, um “passeio” ou ”viagem” espectral em que se melhor divisa os íntimos de uma cidade ou mundo, uma vez atravessando seus segredos. Uma brincadeira séria, por vezes densa, por vezes satírica.Que as ”Vitorias”, uma vez agitadas, partam em debandada nestas leituras, e os leitores encontrem seus assentos, os mais incômodos e satisfatórios, em seus interiores.